Retrocedamos por um momento ao tempo do Paleolítico, onde cada dia do ano ao raiar do sol o homem saía da gruta para arriscar na caça do sustento quotidiano, enquanto na caverna ficavam a companheira e a descendência. O homem era a força, a destreza, o risco, enquanto a mulher era a retaguarda, a segurança, a administração dos bens. De facto, as mulheres, aos longo dos tempos e de forma transversal a diferentes civilizações, sempre tiveram de assumir esse papel de gestoras dos escassos bens do núcleo familiar, e muitos destes traços continuam a marcar, desde a profundidade genética, muitos dos comportamentos que ainda hoje observamos.

Fast forward para o presente, é, pois, sem surpresa que em muito países ditos emergentes as mulheres assumem, cada vez mais, papéis de relevo que começam na economia familiar e evoluem rapidamente para economias empresariais. Desde a agricultura, passando por pequenas actividades comerciais e artesanais até à pequena indústria, a mulher marca a sua presença e liderança em múltiplos papéis. Ela é a geradora do negócio, a principal investidora e quase sempre a gestora, em muitos casos continuando a acumular com as actividades mais tradicionais de mãe, companheira e base do núcleo familiar.

Recentemente, a Global Banking Association conduziu um estudo em 18 países emergentes comparando as mulheres com os homens enquanto clientes bancários, tanto no retalho como no segmento empresarial.

Contrariamente aos lugares-comuns que catalogam a mulher como consumidora e a quem os bancos vendem cartões de crédito “cor-de-rosa” sem mais valor acrescentado, este estudo procurou aprofundar o conhecimento da mulher como objecto de credito bancário e os resultados não podiam ser mais claros, as mulheres: (i) fazem mais poupança que os homens (rácio empréstimo-depósito de 103% nas mulheres e 153% nos homens), (ii) são clientes mais fiéis e tendem a deter mais produtos do banco que as acolhe, (iii) são mais prudentes ao solicitar empréstimos e têm melhores indicadores de cumprimentos (rácio de incumprimento de 1,8% contra 2,8% nos homens no segmento retalho e 4,8% contra 6,1% no segmento empresarial) e (iv) finalmente, pelas razões antes apontadas, consomem menos recursos de capital (em média uma diferença de menos 4,8%).

Definitivamente, as mulheres são melhor objecto de crédito para os bancos que os homens e, nessa medida, potencialmente clientes com maior rentabilidade. E é aqui que surge uma excelente oportunidade para os bancos desenvolverem uma segmentação pensada para as mulheres, com produtos específicos de poupança e crédito, análise de risco especializada e adequada capacitação financeira,  potenciando desta forma não só a rentabilidade da instituição, mas também contribuindo para a formalização e promoção da mulher enquanto ente económico individual e empresarial.

Muito mais que iniciativas governamentais de promoção da mulher, tantas vezes construídas sobre iniciativas legislativas cheias de boa vontade, mas assentes numa imposição e, nessa medida, tantas vezes conduzidas ao fracasso, deixemos o sector privado financeiro agir como um poderoso catalisador da promoção da mulher. Muitos bancos da América Latina já o perceberam e, com o apoio de instituições como o IFC, puseram as mãos ao trabalho. O mundo está a mudar e rapidamente.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.