O impetuoso fluxo reivindicativo e populista de Assunção Cristas continua imparável. Esta semana, na visita ao bairro social da Flamenga, a presidente do CDS e também vereadora, afirmou a sua compreensão relativamente à ocupação ilegal das habitações pelos moradores deste bairro. Pese embora o drama destas pessoas que é digno de respeito, o princípio da legalidade é a essência do Estado de Direito e uma líder partidária, deputada e vereadora aceitar com benevolência a sua violação é um indicador de que a nossa democracia representativa já viveu melhores dias.

Este comportamento só pode ser visto à luz dos princípios tendentes ao estabelecimento do socialismo comunista que sempre assumiu a defesa das ocupações ilegais nos processos revolucionários. Processo que o CDS iniciou com Assunção Cristas em 2016 e que se tornou para a sua máquina numa necessidade objetiva de sobrevivência.

O trabalho criteriosamente desenvolvido pela esquerda em criar complexos relativamente à clássica direita do CDS, conservadora e democrata-cristã, tem induzido a atual direção do partido a assumir, por razões eleitoralistas, uma atitude cada vez mais comprometida com ideários avessos à sua matriz identitária.

A autora da lei que implantou o regime da renda apoiada, notoriamente persecutória dos mais desfavorecidos e que via os moradores dos bairros sociais como prevaricadores, vem agora defendê-los e aprovar-lhes a conduta contra legem. O espírito de fiscalização e punição da “Lei Cristas”, que imperou durante os últimos anos nos bairros municipais, tenta agora ser branqueado pela sua autora com visitas constantes aos que não hesitou em denunciar e punir durante o tempo em que foi ministra.

De neoliberal assumida, Assunção Cristas passou a bolchevique declarada, açulando às reivindicações imediatas e a uma política de intervenção. Aliás, o discurso libertário que adotou é meramente demagógico e oportunista e se fizermos uma abordagem sistemática de toda uma série de questões políticas, táticas e orgânicas do seu pensamento, verificamos o vazio e a inconsistência. Resta saber até quando é que os militantes do CDS aceitam continuar a recuar nos seus princípios fundadores com a justificação de que é a única maneira de ganhar votos.

O CDS sempre foi o partido mais ideológico do espectro, o único que votou contra a Constituição socialista de 1976 e que lutou intransigentemente contra os abusos comunistas, mas também o único que teve vários comícios boicotados, cercados e ameaçados a tiro, sendo no norte do país que conseguiu penetrar e finalmente organizar-se. É altura de o resgatar com coragem e determinação. Ainda há tempo.