Não, não vamos falar do filme de Pedro Almodóvar do final da década de oitenta do século passado, nem o nosso artigo trata, ao contrário da película, apenas da situação das mulheres. O objeto da nossa atenção são os milhares de habitantes do terceiro calhau a contar do Sol que diariamente desesperam com uma pandemia que os obriga a viver confinados, palavra que, até há bem pouco tempo, estava perdida no meio do dicionário e que agora faz parte do nosso quotidiano.
A obrigatoriedade de ficarmos sitiados nas nossas casas, para evitarmos a escalada do número de contágios, internamentos hospitalares e mortes, abalou profundamente as nossas vidas, quer do ponto de vista profissional, quer do prisma pessoal. Milhares de pessoas viram as suas vidas viradas do avesso, com sonhos destruídos, projetos adiados e objetivos por cumprir.
Centrando-nos, apenas, em Portugal, que representa um exemplo de uma realidade muito mais vasta, podemos constatar que o turismo, atividade de importância vital para a nossa economia, praticamente despareceu, de há um ano a esta parte. Os estabelecimentos hoteleiros estão encerrados ou mantêm-se numa agonizante abertura que não lhes permite sequer suportar os custos da estrutura, os estabelecimentos de alojamento local optaram, na sua quase totalidade, por fechar portas, não se vislumbrando, quanto à esmagadora maioria, qualquer raio de Sol no horizonte, nem existindo esperança de que voltem a reabrir.
Os restaurantes ou desistiram já de se manter abertos ou vivem de uma pouco rentável atividade de takeaway, onde a margem de que dispõem é, em larga medida, sugada pelas plataformas que asseguram a entrega dos géneros alimentícios em casa dos que clientes que se vão mantendo fiéis. As discotecas e os restantes espaços de diversão noturna estão totalmente encerrados há cerca de um ano e não se vê como se irão conseguir reerguer no pós-pandemia.
Os profissionais da cultura veem-se impossibilitados de exercer a sua atividade, com os espetáculos totalmente paralisados e os artistas a braços com uma crise outrora não imaginável. Os empregados dos hotéis, dos alojamentos locais, dos restaurantes, das agências de viagens, e tantos outros, foram atirados para o desemprego ou vivem ao abrigo das ajudas estatais que lhes permitem manter um rendimento mínimo que lhes assegura a subsistência.
Mas nem só o turismo foi afetado pela pandemia. Muitos foram os que viram a sua vida dramaticamente afetada pela Covid-19. Os médicos, os enfermeiros e os restantes profissionais de saúde, que se encontram no olho do furacão, tendo de trabalhar horas atrás de horas em condições muitas vezes precárias, sem terem meios para lutar de igual para igual com o vírus. As suas vidas pessoais, as suas famílias têm sido martirizadas pela pandemia.
Os professores que tiveram que reinventar-se, passando os dias agarrados ao ecrã de um computador, sem terem condições para interagir com os seus alunos a não ser à distância, numa missão por vezes inglória de os conseguir cativar para aulas que são frequentemente interrompidas por ligações que teimam ir abaixo, que se veem forçados a socorrer-se da imaginação para fazer provas minimamente capazes de aferir com justiça o empenho e os conhecimentos demonstrados pelos seus alunos.
Muitos outros são os exemplos de pessoas que viram as suas vidas radicalmente alteradas do dia para a noite, num processo que deixará marcas a vários níveis. A saúde mental é claramente um deles. Estamos, pois, todos, uns mais do que outros, mas, inequivocamente todos, à beira de um ataque de nervos.