Escrevo este texto ainda no início da discussão orçamental na generalidade na Assembleia da República e numa altura em que muitos permanecem descrentes de que toda esta crise não passe de uma coreografia mais sofisticada da habitual negociação entre as esquerdas.

No entanto, há algo que convém realçar e ter em conta. Entremos ou não num cenário de dissolução parlamentar e de eleições antecipadas, a geringonça morreu e esta semana deu o seu último suspiro. No limite, se o Partido Socialista ceder no último minuto às exigências e pressões do PCP e do BE, a geringonça arrastar-se-á pelos cantos em modo zombie até às próximas eleições legislativas. Mas nunca mais, depois deste braço de ferro, voltará verdadeiramente à vida.

Dito isto, prefiro para esta crónica centrar-me numa notícia surgida esta semana e que envolve uma profissional portuguesa. Refiro-me à inclusão de Teresa Mesquita, Chief Marketing and Product Officer da SIBS, no grupo criado pelo Banco Central Europeu e que reúne 30 personalidades do sector privado, especialistas na área de pagamentos para retalho. Começando já em novembro deste ano, a tarefa desse grupo será a de contribuir com a sua expertise e know-how para o projeto de criação do euro digital, ou e-euro, como é já também chamado.

Como já aqui tinha escrito em texto anterior na sequência das diligências do Bank for International Settlements (BIS), os bancos centrais estão focados na criação de moedas digitais que concorram com as bitcoins e afins. Durante cerca de mais um ano e meio decorrerá a fase de investigação e análise para definição do modelo, por forma a que evite impactos negativos na estabilidade financeira e na política monetária, garantindo ainda que o euro digital será muito mais amigo do ambiente do que os criptoativos como a bitcoin, de elevado consumo energético para a sua produção.

O objetivo parece, mais do que meritório, inevitável. Como escreve a revista “The Economist” na sua mais recente edição, o mundo está à beira de uma revolução em tempo real na Economia e a pandemia levou os governos e os bancos centrais à experimentação, desde a monitorização de reservas em restaurantes até ao rastreio dos pagamentos por cartão.

Os resultados são ainda rudimentares, considera a equipa da “The Economist”, mas à medida que os dispositivos digitais, os sensores contactless e os sistemas de pagamentos rápidos se tornarem omnipresentes, a capacidade de ler a economia de uma forma tão exata como instantânea irá melhorar. Resta saber se a outra face da moeda, por detrás da promessa de uma melhor tomada de decisões do sector público, não será uma ainda maior perda de privacidade e um reforçado controlo por parte das entidades governamentais.

Mais uma vez, como em tantas outras, o avanço do digital coloca-nos o dilema entre privacidade e liberdade, entre independência e segurança. Com a criação de uma moeda digital europeia, a proteção de dados ganhará uma relevância como nunca teve até aqui.

 

É um objetivo ambicioso, mas tão meritório quanto necessário. O anúncio, aliás noticiado por este jornal, de que a FIL pretende transformar a BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, agendada para 16 a 20 de março de 2022, num dos principais certames do sector a nível europeu no espaço dos próximos dez anos, vem dar uma bolsa de oxigénio a um sector que muitíssimo sofreu com a pandemia.