Neste período de enorme incerteza tenho aqui elogiado repetidamente o amplo consenso político e social, que permitiu evitar a anunciada catástrofe sanitária, bem como o papel exemplar dos administradores hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS), na reformulação de circuitos, no estabelecimento de procedimentos de testagem, acolhimento, internamento e tratamento dos doentes com Covid-19. Um exemplo extraordinário de competência ao nível da gestão.
Importa também elogiar a prontidão e a decisão política no tocante à criação das linhas de crédito e das moratórias, aliviando pressões de tesouraria de empresas, preservando emprego, até ver e dentro do possível, e mantendo a funcionalidade e a capacidade de consumo das famílias.
Mas queria elogiar também a prontidão, a capacidade de execução e rapidez dos bancos de retalho, e dos bancários que neles trabalham, absolutamente críticos no fornecimento de liquidez e no alívio das famílias e empresas. Este é outro dos momentos marcantes na sociedade portuguesa, ombreando com a capacidade de gestão, com a entrega e a competência dos profissionais do SNS. Obrigado, bancários. Não foram (e são) os únicos a ter um papel crucial, mas é justo destacá-lo, pois sem vós o país tinha colapsado!
Olhando para Espanha, ou para a Alemanha, vemos que as nossas medidas de política económica foram acertadas. Mas a dimensão e a relevância económica ainda estão longe daquilo que a economia requer. Sabemos que a capacidade de endividamento dos países não é igual. Mas sem quaisquer dúvidas, e até porque as “linhas de crédito Covid-19” estão esgotadas, vai ser necessário reforçar os seus montantes, de forma significativa e quanto antes. Sob pena de termos uma vaga de falências e desemprego sem precedentes, provavelmente pior do que o ocorrido na Grécia aquando do resgaste de há meia dúzia de anos.
E por falar em Banco de Portugal, o nosso regulador nada diz sobre o facto de alguns bancos estrangeiros estarem a repatriar dividendos para os países de origem?
Infelizmente, a tentativa de uma certa chanceler de intimar os seus cidadãos a fazer férias domésticas ou dos juízes de Karlsruhe de tentar intimidar as decisões dos órgãos da União Europeia, uma e outros potencialmente aprofundando a recessão portuguesa (sim, o turismo é a nossa força e fraqueza), ou a desconfiança dos mercados de capitais face aos PIGS, só pode ter uma resposta política: agir com rapidez e de forma decisiva para mitigar os efeitos económicos da pandemia.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.