A Europa vai até aos Urais é uma constatação geográfica bem simples que, no entanto, é importante recuperar quando a União Europeia segue a galope para o maior investimento militar desde o fim da II Guerra Mundial. Não há grande dúvida sobre a necessidade de aumentarmos o investimento nesta área, embora com tino.

É, contudo, importante não confundir a árvore com a floresta. Uma coisa é a tensão com a Rússia, com quem temos e sempre tivemos de negociar e encontrar um caminho; outra, bem diferente, é identificarmos os verdadeiros inimigos – inimigos, não apenas adversários – da Europa, que não se encontram certamente na Rússia, mas bastante mais abaixo da tal fronteira que fica nos Montes Urais e que nos separa da Ásia. É no extremismo islâmico que enfrentamos o nosso maior risco existencial. Ele pode andar meio adormecido, mas sabemos todos como são ativadas essas células que deixámos entrar.

Este é o combate deste século e ele tem de ser encarado livre do politicamente correto que ainda marca o pensamento da esquerda lusitana. A proibição da burqa finalmente aprovada no Parlamento, não é o mesmo que proibir o xaile beirão nem é uma limitação à liberdade de expressão individual. O que leva o Estado a recusar que as mulheres sejam obrigadas a tapar o corpo inteiro, por vezes até os olhos, para andar pela rua é precisamente a proteção que devemos garantir a todas e a cada mulher que esteja em território nacional. Chama-se a isto civilização democrática. Chama-se a isto liberdade. A agenda política do Chega, sempre pronta a estigmatizar minorias, coincide neste relevante propósito – embora as suas verdadeiras razões sejam de origem xenófoba –, mas isso é um detalhe.

O mais importante nesta história é que nós, os europeus, andamos muito distraídos com a guerra da Rússia na Ucrânia e estamos a empenhar as próximas gerações com pesados investimentos militares quando talvez fosse mais importante prestarmos atenção ao extremismo islâmico e às suas diferentes expressões. Proibir a burqa foi uma decisão política nacional da máxima importância, uma das mais ajuizadas dos últimos anos. Não foi folclore, tem impacto no nosso modo de vida. Neste caso – só neste – a obsessão com o Chega é inútil.