Em abril saíram as projeções do FMI sobre a evolução da economia global. Comparando com as anteriores, de dezembro de 2022, constata-se uma redução significativa dos valores projetados para 2025 e 2026. Esta redução é tanto mais significativa, quando estamos em presença de crescimentos medíocres, sobretudo em relação às economias mais avançadas. Como tem sido tendência, nas últimas décadas, o crescimento mais elevado tem ocorrido nas economias de mercado e emergentes, embora não se possa desligar esta maior dinâmica das relações que estabelecem com as economias mais avançadas, de onde recebem vários impulsos que não podem ser subestimados. Os casos da China ou da Índia são paradigmáticos.
As perspectivas apontam para uma redução substancial do crescimento em 2025, em comparação com 2024, que já não foi um ano notável. Perspetivas que se projetam para 2026, embora neste caso, tendo em conta as ameaças e incertezas que se perfilam, tenham de ser relativizadas.
Mais grave é a situação na Europa, sobretudo se comparada com as projeções para os Estados Unidos. A taxa de crescimento projetada para a zona euro, em 2024, é menos de metade da projetada para os EUA (0,8% contra 1,8%), embora com alguma recuperação para 2026 (1,2% contra 1,7%). A Alemanha, com uma taxa de “crescimento” projetada de 0% para 2025 e de 0,9% para 2026, após ter tido crescimento negativo em 2023 e 2024, pode considerar-se em recessão, o que não deixa de acentuar as nuvens negras sobre a evolução económica nos próximos tempos. A França está, um pouco menos mal, com crescimento previsto de 0,8%, para 2025 e 1,0% para 2026, mas se considerarmos outras pressões com que se confronta, particularmente em termos de défice e dívida pública, não parece poder compensar a Alemanha. As duas economias confrontam-se com processos de crise estrutural profunda, reflexo do desajustamento crescente com a economia global, com impactos evidentes em toda a área do euro.
As últimas informações disponíveis para a Alemanha, publicadas pelo Bundesbank em abril, sobre a evolução no 1º trimestre não alteram substancialmente o quadro: uma ligeira recuperação face ao trimestre anterior, mas uma expectativa de quebra no 2º trimestre. As projeções do final de março do Banco Central de França, confirmam as perspetivas sombrias para 2025, embora com recuperação em 2026. Por sua vez, as estimativas do Eurostat, publicadas no final de abril, para a zona euro e a UE, embora ligeiramente mais otimistas, não alteram substancialmente a situação.
A grande surpresa, ou talvez não, vem dos Estados Unidos, com a publicação dos últimos dados sobre o 1º trimestre, pelo Bureau of Economic Analysis, do Departamento de Comércio. No primeiro trimestre deste ano, verificou-se uma contração da atividade económica de 0,3%, em termos anuais, em contraste com um crescimento de 2,4%, no último trimestre de 2024, também anualizado. A quebra terá ficado a dever-se ao aumento das importações e à redução das despesas governamentais. Em contrapartida, verificaram-se aumentos no Investimento, e nas Exportações que compensaram parcialmente os decréscimos verificados nas outras componentes. Mas, não deixa de ser interessante assinalar o crescimento do investimento, particularmente dos não-residentes que cresceu 9,8%.
Tudo reunido só pode levar a uma conclusão: estamos no limiar de uma recessão global que, no contexto atual de confronto generalizado e de irracionalidade coletiva, poderá ter efeitos desastrosos, acelerando todas as tendências de fracionamento que estão a manifestar-se. A saída implicará, certamente, uma reconfiguração da arquitetura económica mundial. É tempo de os responsáveis pensarem seriamente no que podem fazer para evitar que os piores cenários se concretizem.