Este tempo amorfo e cinzento que nos tarda a trazer o verão, tem-nos trazido uma imensidade de propostas políticas em antecipação a uma campanha eleitoral pronta a despontar e a demonstrar que é possível encontrar o céu na terra, a prometer o impossível e a acreditar que os mesmos protagonistas serão capazes de ser e fazer diferente, apenas porque o afirmam.

Está assim lançado o tempo de todos os partidos, todos os dias nos trazerem uma novidade, apresentada estrategicamente como parte integrante de um todo profusamente refletido, constituindo um projeto político adequado à próxima governação e a melhorar o nosso futuro coletivo.

No centro das preocupações, transversais a todos os partidos, a saúde. Repentinamente o Serviço Nacional de Saúde (SNS) faliu e todos se apressam a apresentar propostas, incluindo aqueles que ainda governando mais contribuíram para os problemas que o setor atravessa. Ao querer responder a todas as reivindicações ao prover a resposta pontual para situações estruturais é ao atual Governo socialista que se deve atribuir em grande medida o estado confuso e atribulado do SNS.

É consensual o estado de crise no setor da saúde. As greves sucessivas e infindáveis, consequência da insatisfação que os elos humanos sentem, e que trazem acrescida preocupação aos utentes que veem consultas adiadas, cirurgias derrapadas, dívidas acrescidas ou pagamentos dilatados, medicamentos em falta e instalações crescentemente degradadas. Não se trata apenas de falta de investimento, comum a tudo o que é público, mas gestão desastrosa, pois um sorriso não basta, como não basta imputar qualquer responsabilidade a gastos com parcerias público-privadas que servem como meras cortinas de fumo para a incapacidade.

Os impostos estão na linha da frente da agenda de campanhas. Baixar impostos para revitalizar a economia e aliviar a classe média, ou propor a demagógica subida significativa dos rendimentos mais elevados, medida que dá pouco resultado e afasta do país os bons quadros e os investidores, como aconteceu no último governo socialista francês de Hollande. E como conciliar baixa de impostos com o crescendo de despesa pública corrente, que não havendo crescimento nem aumento de produtividade, ninguém conjuga a dificuldade de gastar mais com menos receita.

Terminamos um ciclo de quatro anos sem investimento público. O partido do poder explica-nos, com rara desfaçatez, que os visíveis maus serviços públicos se devem à sua falta de capacidade para reduzir burocracia, assegurar transparência e responder às naturais solicitações dos cidadãos. A falta de resposta dos serviços públicos é da exclusiva responsabilidade do Governo de António Costa e do seu controleiro Mário Centeno.

Aliás, sendo patente que a campanha eleitoral factual já começou, é extraordinário como o primeiro-ministro se desdobra em aparições públicas sucessivas, ignorando o secretário-geral do PS, e assim garantindo tempos de antena privilegiados a inaugurar instalações já existentes e a descerrar bandeiras ao lado de placas de outros governos, assegurando que pelo menos a placa é nova.

Convém ao poder instituído manter as propostas a um nível generalista para não criar grandes expectativas… para além das expectativas. As promessas não devem ser mais do que promessas pois que a dívida pública tem de ser controlada. A despesa e o défice devem ser contidos e o crescimento económico é apenas uma meta ilusória que tudo condiciona: os aumentos próximos futuros e as promessas.