Em Portugal e na Europa em geral, está a criar-se o hábito de apelidar de “extrema-direita” e de “fascista” qualquer opinião que fuja a uma suposta linha que se quer fazer passar por “humanista”.

“Não concorda com o casamento ou com a adopção por casais homossexuais?” – é um homofóbico inexorável. “Acha que os presos devem ter as liberdades condicionadas?” – é um intolerante acirrado. “Gosta de touradas?” – é um perigoso radical. “É contra o aborto?” – é um fervoroso antifeminista. “É contra a eutanásia?” – é um profundo desrespeitador de liberdades individuais.

Graças à tolerância de uma direita envergonhada, a esquerda começou a “entranhar” esta cartilha, aproveitando-se da vertente humanista que a evolução das sociedades ocidentais e da Europa, em particular, permitiu desenvolver. A tal ponto que uma qualquer discussão que envolva uma pessoa com ideologias de esquerda acaba, invariavelmente, na discussão de casos extremos, ao invés da análise do real problema para o qual se pretende encontrar uma solução.

Um bom exemplo disso mesmo são as recentes eleições brasileiras. De um dia para o outro (como se as coisas acontecessem de facto assim) temos em confronto “o fim do mundo”, corporizado por um candidato dito de extrema-direita, e um “democrata” do Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro, que corporizava “o bem”.

Efetivamente, e apesar de ter feito parte dos governos de Lula (preso por corrupção ativa) e de Dilma (destituída pelo mesmo motivo), diziam-nos grandes figuras desta nação à beira-mar plantada, a nossa, que “Haddad é um mal menor”. Apesar de toda a corrupção e do caos de violência em que se encontra o Brasil, Haddad é um “democrata” (imagine-se) e como tal preferível ao “louco” de extrema-direita que se perfilava para vencer (como se veio a confirmar) as eleições presidenciais brasileiras.

À semelhança dos chineses do Futre, foram “charters” de políticos portugueses que se alinharam contra Bolsonaro para defender Haddad – o democrata – e livrar o Brasil de uma nova ditadura. Os brasileiros são há muito independentes e decidem pela sua cabeça. Se 100 milhões de eleitores brasileiros serviram para eleger Lula, também servem agora para decidir os destinos do seu país sem precisarem de “conselhos” dos génios aqui do burgo.

Indo por partes. Convém esclarecer que o PT não é um partido democrata. É um partido comunista, marxista-trotskista, que defende a ascensão do proletariado e um sistema de partido único. Ou seja, é um partido de extrema-esquerda que em Portugal tem paralelo no Bloco de Esquerda. Deste modo, o que estava em confronto não era um partido “democrata” contra a extrema-direita mas, no limite, a extrema-direita contra a extrema-esquerda. É curioso que muito poucos o tenham feito notar.

É igualmente curioso constatar que uma grande parte dos políticos em exercício de funções continue a não entender que Bolsonaro (e Trump, já agora) não são a causa mas sim a consequência de anos de políticas de caserna, de corrupção e de favor. Políticas erradas implementadas por partidos tomados por políticos incompetentes, que se servem a si próprios ao invés das pessoas que os elegem e que deveriam representar.

O resultado está à vista: Brexit, Trump e agora Bolsonaro. A história repete-se e o que se retira do passado não augura um futuro brilhante. Acreditar nas cartilhas encapotadas e enfiar a cabeça na areia não farão desaparecer o problema.

Já agora: alguém sabe se os ditos políticos portugueses que foram ao Brasil salvar o país da ditadura de Bolsonaro passaram na Venezuela para ajudar as centenas de milhares de portugueses assolados por uma ditadura socialista que levou o país à miséria? Eu não!