Mas sobretudo porque ficou claro que o país não pode mais adiar uma resposta estrutural a um problema que se arrasta por décadas de abandono e desinvestimento do seu património florestal.
Isto ficou claro no recente discurso político nacional, com forte compromisso pessoal do presidente da República, e existe pouca margem para ficar tudo como está depois de tudo o que aconteceu – pelo menos é isso que os portugueses esperam, e que deverão deverá contar com escrutínio exigente por parte de todos, sobretudo da imprensa. É claro que Portugal precisa que esta reforma vá por diante. Porque as chamas que consumiram o país necessitam de uma resposta exigente, e que crie futuro para as próximas gerações. Não se trata apenas dos incêndios, mas de olhar para todo um sector, que se encontra economicamente negligenciado, e onde se “bateu contra a parede”. Se nada for reestruturado, então isso dirá muito sobre a capacidade do país de se comprometer com uma agenda de longo prazo, e não podemos encarar o futuro do país de forma displicente.
Para além da reforma florestal, existem outras frentes que Portugal precisa de enfrentar, e onde o tempo escasseia, onde já existe um contrarrelógio real. A próxima década pode trazer desafios e também oportunidades para transformar a sociedade e a economia portuguesa, tornando-a mais competitiva e que permita dar maior qualidade de vida e oportunidades aos portugueses. Para tal não basta o ímpeto no sector do Turismo, não bastam eventos geradores de fundraising como Web Summit. É preciso um compromisso com reformas sérias, onde decisões pouco populares poderão também ter que ser tomadas.
Um exemplo crítico está relacionado com o sistema de pensões, e onde alguns especialistas têm vindo a fazer alertas que são assustadores. As estimativas apontam para que a geração dos 40 anos, onde me incluo, deverá encarar 40% a 50% de corte no valor a receber na altura de se reformarem. Este debate, o das reformas, é um dos que estão a ser ignorados olimpicamente pelo poder político e mediático na sociedade. Tal como durante décadas foi o dos incêndios em Portugal, e onde se continua alegremente a manipular estimativas de sustentabilidade ao sabor da agenda de curto prazo. Isto já para não falar de que a recente “saída de lixo” nas notações de rating internacionais, corre o risco de ser encarada como um ponto de chegada, uma licença para ignorar do elevado nível de endividamento do país, seja Estado, seja das empresas, e sobretudo das famílias. Make no mistake, o país continua com elevado risco de incêndio em várias frentes. Mas são chamas que não se veem a olho nu, são florestas que ardem de forma invisível. E exigem capacidade de antecipação e determinação politica a condizer.