Esta legislatura fica marcada pelo momento que se escreveu torto por linhas direitas. Ao criar a maioria das esquerdas que suporta o Governo, António Costa impediu que quem ganhasse as eleições tivesse condições para cumprir o seu mandato. Constitucionalmente legítimo, politicamente inadequado. Mas a política tem cada vez menos ética.

O resultado das eleições alemãs tem os mesmos descritivos, mas anuncia resultado bem diferente. Não condescendendo com chantagens ou exigências exorbitantes, Angela Merkel prefere devolver ao eleitorado a escolha do governo do que manter-se a todo o custo no poder. Assume querer cumprir o seu programa, deixando clara a irresponsabilidade política à esquerda e à direita. Merkel sabe que um poder fraco destrói um país e não aceita hipotecá-lo.

A Europa precisa de uma Alemanha forte e não de um governo frágil. A Chanceler percebeu que com os parceiros com quem negociava corria o risco de a todo o momento ficar refém de demagogia e populismo.

Portugal constitui um exemplo para a Alemanha. Preso nas suas contradições e no rescaldo das eleições autárquicas, os partidos das esquerdas lançaram já o combate das próximas eleições legislativas. Esfumado o objetivo da maioria absoluta, o PS passa por um momento complicado, com um desnorte do primeiro-ministro enredado na teia que desenhou. Cercado pelas promessas incumpríveis, condicionado pela “rua” e pelas reclamações sucessivas, atolado na contradição de refazer o sonho socrático, o Governo e o PM perceberam que estão num beco sem saída. Respondem como os fracos e os cobardes. Concordam e aceitam tudo, deixando deslizar a irresponsabilidade, adivinhando-se que outros protestos virão.

Negam os avisos externos – à semelhança do final do socratismo. Nesse tempo, perante o abismo, o governo deu um salto em frente. Meses depois dos avisos do ministro das Finanças Teixeira dos Santos chegava a intervenção externa. Por trás dos resultados de conjuntura e do crescimento económico, esconde-se a falta de estratégia e de rumo estrutural. Regressamos à condição portuguesa de merceeiro.

Nos dois últimos anos não criámos riqueza duradoura. O que conquistámos desbarátamos. Depois do sacrifício não percebemos a questão maior, de que vivemos acima e para além das nossas possibilidades. É tempo de regressar ao realismo e para isso não podemos contar com o PCP, o BE ou os sindicatos. Pedro Passos Coelho alertou para a governação taticista e imediatista. Porventura o problema é ainda mais evidente, pois que a agenda da maioria se limita a recolocar o país onde estava antes da troika. O que bem sabemos não era um país viável.

Continuar nesta senda é instalar o país a descer num plano inclinado. Não é o diabo mas sentimos a vertigem da descida. Os alertas regressam e, como num passado recente, negamos os factos. E, como antes visto, a soma das minorias não dá maiorias confortáveis, apenas as agonizam.