Controlo de exportações de semicondutores avançados para a China, tarifas selectivas em produtos chineses de alta tecnologia e políticas industriais, designadamente para a produção das tecnologias da descarbonização e para os semicondutores da última geração, em vez das tarifas generalizadas da Administração Trump, parecem-me os instrumentos adequados para os EUA tentarem atrasar a ameaça chinesa.

Em Maio, Trump introduziu controlos na exportação para a China nos produtos químicos e softwares usados para produzir semicondutores bem como nos menos avançados chips H20 da Nvidia, que esta tinha desenhado para tentar ultrapassar as restrições da Administração Biden nas exportações para a China. Também reforçava o controlo de exportação dos semicondutores da era Biden.

Mas Trump parece agora esquecer tudo isso, pelo que a Nvidia e a Advanced Micro Devices preparam-se para voltar a exportar para a China não só os H20, mas também os semicondutores de última geração. Mais uma vez, teremos o TACO (Trump Always Chickens Out), ou seja, recua sempre, agora face à ameaça de retaliação da China que passa por travar as exportações para os EUA das terras raras, materiais essenciais para a maior parte dos equipamentos elétricos e de componentes eletrónicos, e onde a China domina os mercados mundiais quer no aprovisionamento mineiro quer nas capacidades de refinação.

Também as tarifas de Trump sobre os aliados Japão, Coreia do Sul, Canadá e União Europeia vão ajudar a China. Como este é um país bem maior do que os EUA, tem uma dimensão, uma escala e um grande mercado interno para produzir produtos que os EUA não têm. Por isso, a única maneira dos EUA competirem com a China é combinar o seu mercado com o desses países e também, eventualmente, com a Índia, por forma a que os produtores nestas geografias vejam um mercado conjunto que exceda a dimensão do mercado chinês. E, complementarmente, esses aliados produzem componentes e bens intermédios que são essenciais para as cadeias de abastecimento das empresas americanas.

As tarifas de Trump a esses aliados põem assim em causa não só esse grande mercado, como também as cadeias de valor global, não controladas pela China, essenciais às empresas americanas, e não resolvem o problema do défice externo americano, que é, em termos macroeconómicos, o resultado de um excesso de investimento sobre a poupança americana!