A última Cimeira dos BRICS evidenciou o crescente interesse que este arranjo de governança global desperta no Sul Global, que historicamente tem sido excluído de uma participação mais significativa no G7 e no G20. Os BRICS, acrónimo inicialmente concebido como uma ideia econômica, gerou nos países fundadores a percepção de que era o momento de reconstruir uma ordem global mais inclusiva e equitativa.
Com isso, os BRICS vêm se afirmando como um ator relevante propondo uma visão multipolar e inclusiva, em clara contraposição ao tradicional domínio das potências ocidentais nas principais instituições globais, como as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Reequilibrar o poder global é um objetivo essencial para os países em desenvolvimento.
Entretanto, os BRICS não se limitam a desafiar o status quo. Sua função mais essencial é dar voz ativa aos países emergentes e permitir sua influência no processo de reforma do poder global. Com uma população significativa e um peso econômico superior ao do G7, os BRICS alcançaram uma relevância única, com legitimidade e poder de negociação nos principais temas da agenda global.
Aos críticos tradicionais dos BRICS, que apontam a falta de uma agenda comum ou focam nos problemas internos dos países membros, a Cimeira de Kazan deixou claro que há, sim, uma agenda robusta em desenvolvimento. Além disso, tais críticas parecem injustas quando se comparam com as violações históricas de direitos cometidas por várias nações do G7.
A Cimeira também evidenciou um Vladimir Putin fortalecido, firme e resiliente em sua posição. Apesar da propaganda em sentido contrário, a percepção é de que a Ucrânia, mesmo com o apoio da NATO, não conseguiu reduzir a presença russa de maneira significativa, o que sugere uma posição favorável à Rússia no conflito.
Vale destacar que o BRICS, ao contrário do que muitos críticos sugerem, não visa substituir as instituições internacionais, mas reformá-las. No médio prazo, uma das questões centrais parece ser a criação de uma alternativa ao dólar como moeda nas transações internacionais, uma iniciativa que afeta, profundamente, o último bastião da hegemonia norte-americana.
O Brasil deveria adotar uma postura mais ativa dentro do BRICS. Sua diplomacia, ainda tímida, busca acomodar-se aos interesses europeus e norte-americanos, deixando de lado uma assertividade necessária para garantir uma presença mais efetiva nesse novo concerto das nações. Talvez o serviço diplomático português, reconhecido por sua eficácia e impacto internacional, pudesse servir de inspiração ao Brasil para atuar de forma mais estratégica neste cenário global emergente.