Nos últimos anos, o polvo tem-se destacado como o recurso pesqueiro mais relevante na região do Algarve, tendo representado cerca de 45% do valor total das vendas em 2022. Essa tendência já era perceptível desde 2018, conforme indicado pelas Estatísticas da Pesca do INE, com os preços a atingir níveis historicamente altos.

A importância cultural e económica do polvo na região é inegável, servindo não apenas como alimento valioso, rico em proteínas e com baixo teor de gordura, mas também como fonte de sustento para as comunidades locais, sendo um dos pilares fundamentais da economia pesqueira regional.

No entanto, para além dos desafios comuns aos enfrentados por outras pescarias, como o envelhecimento da mão-de-obra e a falta de modernização nas práticas de captura, a gestão desta espécie tem-se tornado cada vez mais complexa devido às flutuações frequentes na sua população.

Para garantir a sustentabilidade tanto dos recursos pesqueiros quanto das comunidades pesqueiras, tem surgido um novo paradigma: a cogestão da pesca. Enquanto a gestão tradicional tem sido centralizada, com decisões tomadas unilateralmente pelos governos com níveis variáveis de consulta e envolvimento de investigadores, pescadores, autoridades locais e organizações ambientais, a cogestão procura a participação igual de todas as partes interessadas.

Este modelo, baseado na colaboração horizontal, visa uma gestão sustentável dos recursos, com base em dados científicos sólidos, e pressupõe que as decisões sejam tomadas em consenso, que haja transparência na partilha de informação sobre o recurso e sobre a atividade, planeamento na sua monitorização, e ainda representação de todas as associações e dos pescadores que não estão integrados em nenhuma associação.

Um dos seus principais objetivos é procurar formas de os pescadores pescarem menos (beneficiando assim o ambiente) e ganharem mais (contribuindo para a sua sustentabilidade económica e qualidade de vida).

Após anos de diálogo e negociações, a comunidade pesqueira do Algarve alcançou um marco significativo ao estabelecer um Comité de Cogestão, oficializado em março de 2024. Mais de 75% dos pescadores com licença  para capturar polvo (cerca de 810 licenças) apoiaram esta iniciativa, um momento histórico para a região. Este comité, o segundo do género em Portugal e o que envolve  maior número de pessoas e entidades, é um passo importante rumo a uma gestão mais participativa, democrática e sustentável dos recursos marinhos.

Este avanço-chave resulta do projeto ParticiPESCA, liderado pela ANPlWWF em parceria com o IPMA, o CCMAR e EDF, financiado pelo Programa Operacional MAR2020 e cofinanciado pela Fundação Oceano Azul.

Este foi e continuará a ser um longo processo, de construção e reforço da confiança mútua entre todos os envolvidos, mas podemos já dizer, sem quaisquer dúvidas, que a história da pesca do polvo do Algarve é, hoje, uma história de união, compromisso e esperança, demonstrando como a cooperação entre diversas partes interessadas pode criar um futuro mais sustentável para os oceanos e para as comunidades que deles dependem.