Até agora, o ano de 2025 continua a não dar motivos para estarmos optimistas.
Por cá, o Governo parece estar a deixar-se enredar pela cadência dos soundbites criados pelos populistas para terem efeito nas redes sociais, e a perder o foco nos reais problemas do país. É a repetição do que se passou nos últimos anos, quando estivemos entretidos a emitir opiniões sobre múltiplos “casos e casinhos” em vez de discutirmos o que é verdadeiramente importante – as questões relativas às reformas da justiça, da saúde e da educação, e sobretudo que País queremos deixar para as próximas gerações.
Reconheço que, muitas vezes, a discussão política é alimentada por percepções ou impressões, e não por dados ou factos reais. É uma táctica conhecida e utilizada pelos populistas até à exaustão: se os dados contradizem o que os sentidos nos dizem, quem quer levantar a discórdia para retirar dividendos políticos e causar agitação consegue manter durante muito tempo acesa a negação da realidade.
Tem sido assim no debate sobre o tema da segurança, onde o tanto o Governo como alguns dos principais partidos da oposição têm demonstrado alguma fragilidade na argumentação, resultando numa tendência para ceder ao mais fácil. Só é possível ganhar este combate aumentando o volume e a qualidade da informação disponível sobre o assunto, e reafirmando a validade desses dados.
Infelizmente, temos também tido, em continuação do que vem de há vários anos, a incapacidade de resolução de alguns problemas sérios, reais e complexos, como se tem visto no SNS e de alguma forma na educação e na habitação. Mais uma vez, constatamos que as perspectivas que se têm sobre estes (e muitos outros) temas varia consoante se está na oposição, em campanha eleitoral, ou no Governo, sendo que neste último caso a situação é mais grave porque acarreta a responsabilidade.
Internacionalmente, continuamos a assistir a uma enorme transformação de toda a Ordem Mundial. A situação é muito complexa, e está em permanente evolução, o que torna qualquer análise particularmente difícil. Mas parece ser visível o cenário que se está a desenhar de um afastamento entre os Estados Unidos e a Europa, em resultado da visão de Donald Trump de que os conflitos internacionais podem ser resolvidos de modo transacional.
A paz na Ucrânia é, a todos os títulos, desejável, mas será admissível que possa ter como resultado a cedência de território pela Ucrânia, em resultado do que se diz ser “a situação real no terreno”? Isso seria a negação do princípio fundamental que está em prática desde, pelo menos, a II Guerra Mundial, que condena a guerra de conquista. É que a acreditar em afirmações mais fortes de Donald Trump, esse cenário não será de excluir totalmente, inclusive nos casos da Gronelândia e do Panamá, se os desejos dos EUA não forem satisfeitos. E será sequer concebível a hipótese de deslocação forçada da população de Gaza para a construção de uma “Riviera do Médio Oriente” para ser usufruída por outros, com o argumento de que o território está actualmente inabitável?
Entretanto, e apesar das posições de Orbán, a Europa parece estar a dar sinais de reconhecer a gravidade da situação, a sua fragilidade no contexto actual e a consequente necessidade de reforçar os quadros da União para continuar a ser um actor relevante na cena internacional. Veremos.
Como dizia Chico Buarque nos anos 70, “aqui na terra tão jogando futebol (…) mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta”.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.