Nas semanas recentes, o mundo assistiu a uma das mais importantes alterações das últimas décadas – a perda de confiança naquele que era considerado o farol do mundo.

Os EUA têm sido uma referência ao longo de décadas, assim como um porto de abrigo face à instabilidade internacional. A sua capacidade de reação e de implementação foi uma referência. Na crise hipotecária, na questão das dívidas europeias, na pandemia, ou em ações militares, eram os primeiros a tomar decisões. Citem-se alguns exemplos, como os pacotes de estímulos à economia e a compra de títulos de dívida, que, mais tarde, foram seguidos pelos europeus.

Neste momento, porém, assistimos ao fim deste ciclo de entreajuda e do efeito multiplicador e propagador dos estímulos de um país. A implementação efetiva de tarifas e retaliações corresponde a uma perda para as regiões económicas envolvidas, mas, principalmente, para os consumidores de cada uma delas, que são quem, na prática, irá pagar a fatura.

Não é possível substituir importações por produção local a curto prazo, sendo que, a médio prazo, pode até não compensar uma empresa produzir localmente, abandonando esse país, no que se traduz numa redução da oferta.

Ou seja, estas medidas são inflacionistas e apenas podem ser contrariadas com uma redução no consumo, que advém do aumento da incerteza, que é, no fundo, aquilo a que estamos a assistir.

Mas a perda de confiança nos EUA é muito mais profunda. Outro exemplo da mudança de posicionamento dos EUA é o recuo na partilha de informações estratégicas e militares com o governo ucraniano, com a consequente perda de território conquistado. Uma decisão que teve, finalmente, uma resposta por parte da Europa. A constituição de um pacote de mais de 800 mil milhões de euros para a defesa comum, sendo que a Alemanha anunciou mais 500 mil milhões para os próximos dez anos.

Contudo, será necessário ir para além de ‘terra, ar e mar’. As batalhas futuras irão ocorrer no espaço e a constituição de uma constelação de satélites de defesa e de comunicação europeias é, pois, essencial à independência e preservação da democracia na Europa.

A NATO, tal como existia, acabou. E já não se trata de um problema de dinheiro, mas de mudanças de alianças. A ordem mundial mudou. A Europa tem agora uma oportunidade para aprofundar o federalismo e trazer os países do Norte de África ao que pode ser um reposicionamento europeu. A confiança perde-se de um lado, mas pode ser ganha do outro!