Numa conferência de imprensa, no dia 9 de junho, Josep Borrell, o Alto Representante da União Europeia (UE), deu a conhecer publicamente alguns dos aspetos discutidos numa sessão de teletrabalho com Wang Yi, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros. Esta reunião destinava-se também a preparar o encontro virtual de Charles Michel, o Presidente do Conselho Europeu, e de Ursula von der Leyen, a Presidente da Comissão, com Li Leqiang, o primeiro-ministro chinês.

Borrel voltou a afirmar que a “China pode ser um rival sistémico da UE, mas não é uma ameaça à paz mundial”, chamando à atenção para a necessidade de se estabelecer um relacionamento realista com Beijing. Reconhece que a China tem uma ambição global, mas não considera que o seu comportamento possa colocar em causa a segurança internacional.

Com estas afirmações Borrell não estava obviamente a fazer a apologia do regime político chinês. Implícito nas suas palavras encontra-se a necessidade de promover a adoção de regras de convivência entre regimes diferentes, e de se encontrarem fórmulas de acomodação e de coexistência, apesar da competição existente entre a UE e a China. Segundo Borrell, “eles [a China] reiteraram uma vez mais que querem estar presentes no mundo e desempenhar um papel global, mas que não têm ambições militares. Não querem usar a força nem se envolver em conflitos militares”.

A postura da UE face à China, manifestada através das declarações de Borrell, é significativamente diferente da posição da NATO, fortemente influenciada pelos EUA. Na cimeira de Londres, em dezembro último, os Chefes de Estado e de Governo incumbiram Stoltenberg de promover uma reflexão sobre o futuro da Aliança, que servirá de referência para a próxima cimeira, colmatando a ausência de um conceito estratégico. Um dos temas centrais dessa reflexão prende-se com o papel global da NATO e o seu relacionamento com Beijing.

Segundo Stoltenberg é difícil para a Aliança ignorar a China. “A China está cada vez mais próxima em todos os aspetos, desde o Ártico a África, e desde o ciberespaço às redes 5G e outros investimentos em infraestruturas na Europa, para não mencionar a intensificação de exercícios militares com a Rússia”. Embora ninguém o diga, todos pressentem que o posicionamento da NATO relativamente à China será determinante na sua futura relevância política e militar. O pivot to Asia, e a alteração da prioridade estratégica americana da Europa para a Ásia, remonta aos tempos da Administração Obama. Não é de agora. Para continuar a ser útil à política externa dos EUA, a NATO terá de se reformar. Esta abordagem tem muitos adeptos no seio da elite política americana.

Importa perceber o que terá de acontecer para que essa transformação ocorra, se ocorrer, uma vez que vai contra a natureza defensiva e regional da Aliança. A evolução para uma organização de caráter global, como defendido pelos EUA há cerca de década e meia – projeto que não vingou –, poderá implicar a revisão do Tratado de Washington. Será outra NATO. Se isso não acontecer, a Aliança correrá o risco de se tornar “menos necessária”. Será que os europeus vão alinhar numa NATO global, ou preferem a “solução Borrel”? A resposta não é fácil. Ao serem soluções mutuamente exclusivas é impossível abraçar simultaneamente as duas opções.