Vários pensadores credenciados têm reflectido sobre as causas para o progresso das sociedades e nações. São célebres, aliás, as incursões filosóficas de grandes figuras do pensamento Ocidental em torno desta temática. É o caso de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, num passado mais distante, ou de Adam Smith, David Ricardo e Max Weber, com a sua ética protestante, num passado mais recente. Mas é também o caso de Jared Diamond na actualidade, aliás com enorme mediatismo. Em comum, em contextos históricos e filosóficos diversos, todos eles procuraram perceber os motivos que levam algumas organizações políticas, sociedades, nações ou Estados, a progredir, enquanto outras estagnam ou regridem.

O papel da religião e da ética, dos micróbios ou da economia, cada um à vez, marcaram o tom deste debate milenar. Mais recentemente, o papel das estruturas políticas das sociedades e o seu relevo veio trazer uma nova luz a este debate. Seja pela analogia entre os impérios extractivos português ou espanhol, por comparação com os impérios mercantis neerlandês ou britânico, seja pela comparação entre a Coreia no Norte e a Coreia do Sul, uma realidade emerge: são as instituições criadas pelos homens que distinguem as nações e sociedades vencedoras das perdedoras.

O que constatamos é que as sociedades mais inclusivas produzem melhores resultados no desenvolvimento económico e social, na medida em que são capazes de alinhar de forma mais produtiva os interesses de todas as partes envolvidas, dos consumidores aos trabalhadores, dos investidores aos gestores, entre outros.

As sociedades inclusivas respeitam a lei, asseguram os direitos de propriedade e a fruição dos rendimentos do trabalho de cada um, incluindo os direitos futuros a um rendimento ou pensão, adquiridos pelo trabalho e pela paciência no investimento ao longo de uma vida. As sociedades inclusivas têm uma forte e capaz provisão de bens públicos (como é o caso da educação, saúde, infra-estruturas, administração da lei e da ordem, entre outras), independentemente de serem fornecidos pelo Estado, pelo sector social, ou por privados em contratos de concessão.

Estas são algumas das pré-condições identificadas para que uma sociedade inclusiva promova o desenvolvimento económico e social. Sem elas dificilmente assistiremos à emergência de uma classe média com forte consciência social, cívica e política.

Importa salientar tudo isto, numa altura em que os equilíbrios e as pré-condições se encontram em perigo de serem capturados por elites poderosas. Elites que procuram mudar as leis mais essenciais e que deveriam oferecer um horizonte de estabilidade alargado, como é o caso das leis do trabalho e das leis fiscais, para citar apenas duas áreas, e pressionam continuadamente o poder político no sentido da redução do fornecimento de bens públicos. Por outras palavras, regra geral, essas elites pretendem alterar o equilíbrio de poderes, de modo a captar e extrair rendimentos anormais à custa dos restantes cidadãos e do bem comum.

Fenómenos desta natureza são evidentes e quase exercidos de forma grosseira em regimes políticos autoritários, ou totalitários, mas são muito mais subtis e invisíveis em regimes democráticos pluralistas. Desengane-se quem esteja tentado a pensar que fenómenos de tipo extractivo não ocorrem igualmente nas democracias pluralistas.

A quase falência do Estado português, entre 2010 e 2012, apenas veio facilitar o avanço das forças que procuram apenas extrair e nada incluir. Forças que contaram com o apoio de líderes nacionais que pensaram, ingenuamente e por ausência de pensamento próprio, de que não há, ou não haveria, uma alternativa.

O recente movimento de três sindicatos bancários no sentido da cooperação, como iguais, no respeito pelas suas diferenças, mas sem nenhum propósito de se diluírem num projecto amorfo resultante de uma fusão, é um passo muito importante para impor um dique às forças que apenas procuram materializar a desvalorização salarial e reduzir a dignidade dos trabalhadores. Uma tendência clara na banca, em Portugal, mas que, importa deixar claro, não se circunscreve apenas a este sector.

A escolha é clara: queremos ser mais inclusivos como a Alemanha, a Coreia do Sul, o Japão, a Suécia, ou queremos ser meramente extractivos como Angola, o Brasil, ou o Zimbabwe e afins?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.