A esquerda, após o colapso dos regimes comunistas, adaptou o seu discurso a um outro contexto internacional e apropriou-se de novas bandeiras. A suposta preocupação com as questões sociais foi uma das suas apropriações mais eficazes, fazendo com que este tema passasse a ser visto como um seu valor exclusivo.

Passou assim a acreditar-se que a esquerda era a detentora do monopólio da virtude de tal forma que seria vergonhoso e ultrajante defender ideais de direita. Os chamarizes da esquerda já não passariam pela luta de classes mas por temas mais miméticos, como a suposta defesa das minorias. Minorias que foram sempre violadas nos regimes de esquerda. Os valores associados à direita passaram a ser relativizados e até os princípios morais essenciais para regrar a vida em sociedade são dados como nefastos ao desenvolvimento comunitário.

A assimetria moral entre a direita e a esquerda que esta tem conseguido impor através de uma bem montada estratégia de persuasão de massas, tem sido complacentemente olhada pela direita, o que tem valido a esta um enfraquecimento gradual.

A desonestidade intelectual da esquerda é patente quando, em qualquer debate, não são utilizados argumentos de mérito mas antes rótulos que rendem votos nos dias de hoje, como “fascista”, “xenófobo”, “elitista” e “racista”. Os conceitos de Estado de Direito, soberania, identidade nacional, defesa e segurança, vida, família, separação de poderes e direito à propriedade, são reduzidos a instrumentos burgueses supostamente destinados à perpetuação de uma classe.

A esquerda tem sabido capitalizar o discurso bipolarizado dos inocentes e culpados. Todos os culpados são de direita e todos os inocentes são de esquerda. O que é facto é que a esquerda sempre foi avessa ao compromisso e ao debate. Aliás, os seus representantes nunca discutem saudavelmente e, quando confrontados com as suas contradições, assumem posições de raiva e de desprezo pela opinião contrária.

Cada um de nós é a sua circunstância e está invariavelmente associado às suas particularidades e contingências. Para a esquerda, os direitos e deveres individuais são irrelevantes e indiferentes as conquistas feitas através de escolhas livres porque, para ela, a justiça social para ser eficaz tem de ser, se preciso for, coercivamente imposta pelo Estado.

O discurso da esquerda cada vez rende mais votos e, em Portugal, Assunção Cristas e Rui Rio, percebendo isso, entraram na deriva ideológica. Com um espaço vazio na direita portuguesa e sendo a marcha da História imprevisível, incontrolável e com novos desafios, cumpre olhar para este perigoso avanço do discurso da esquerda, agora também nos partidos da direita, e refletir numa inflexão da rota, a bem de todos.