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A crise energética na Europa está em vias de ser ultrapassada?

Passado o choque provocado pela guerra, a crise energética parece estar a ficar para trás. Conheça as opiniões de Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia e de Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP).
23 Julho 2023, 15h00

Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 15 de julho, com a edição impressa do Semanário NOVO.

Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia
Contrariamente ao que se diz, a crise energética não começou com a guerra na Ucrânia, mas muito antes – devido às políticas de descarbonização na Europa e nos Estados Unidos. No pós-Covid, a procura de combustíveis fósseis disparou em 2021 para níveis superiores aos que se verificavam em 2019. Como consequência disso, os preços do petróleo e o do gás dispararam. Em 2021, chamei a atenção para essa crise energética em que já estávamos a viver, perante o estado de negação do Governo sobre a matéria. A guerra na Ucrânia só veio exacerbar essa crise energética, tornando-a particularmente grave e transformando-a numa crise mais global. Depois disto, a Europa conseguiu alguma diversificação na área do gás natural e importamos cada vez mais dos Estados Unidos e da Noruega, que substituíram a Rússia. Pode parecer à primeira vista que a crise energética passou. Mas chamo a atenção para que o novo equilíbrio energético mundial – não contando como contávamos até agora com a Rússia – ainda não está restabelecido. Ou seja, podemos ter no próximo Inverno e mesmo na Europa alguns problemas, principalmente se for uma altura muito agreste. Podemos voltar a ter o reacendimento de uma crise que está neste momento em distensão. Mas não é possível dizer que essa crise está terminada, porque não está feito o novo equilíbrio dos mercados, deixando de ter a Rússia como grande produtor.

Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP)
A crise energética deixou de ser só uma ameaça para passar a ser um processo de transformação. Na Europa, devido a esta crise, fomos forçados a tomar ações e a sair da nossa zona de conforto, nomeadamente recorrendo às energias renováveis. Esta ameaça em termos de dependência energética do gás natural – evidentemente numa perspectiva da indústria – veio acelerar o processo de descarbonização. Daí o investimento (por exemplo no caso do têxtil) em caldeiras de biomassa, em painéis fotovoltaicos. A crise veio por outro lado mostrar que há uma nova oportunidade na utilização de baterias. A crise foi um acelerador da transformação: a utilização de outras fontes de energia para além do gás natural foi motivado pelo choque energético. E ainda estamos muito no início da produção e utilização do hidrogénio verde – uma área que está a nascer e que carece ainda de desenvolvimento tecnológico para tornar-se competitivo. Mas sem dúvida que veio dar um forte contributo. A crise acabou? Eu diria que provavelmente sim, a crise acabou. Estamos na iminência de conseguir entrar, ao longo desta década, numa situação em que a dependência europeia dos combustíveis fósseis vai ser muito menor. Daí deixar de haver aquilo a que se tem assistido até agora: a um drenar de recursos para a fatura energética – que nos chega do exterior da Europa. Estamos a caminhar para uma Europa auto-sustentável em termos de combustíveis e de energia.

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