Nos dias que correm, é notória a primazia dada à forma sobre o conteúdo, à aparência sobre a realidade.

O que releva é se soa a moderno, se tem uma boa imagem, se tem uma apresentação em powerpoint, se vem do estrangeiro, etc., ainda que nada verdadeiramente venha a acrescentar.

Este fenómeno galopante, erigido quase a vertente doutrinária, atravessa todos os setores de atividade com níveis de penetração tanto maiores quanto mais acentuado for, nesse sentido, o estilo de gestão ou atuação dos seus atores principais.

Como denominador comum desta pseudocultura temos o facilitismo, a superficialidade e o tom linguístico.

Começando pelo patamar, dir-se-á, mais tímido, e que se manifesta ao nível da linguagem, surge-nos a substituição de designações de órgãos ou de funções historicamente usuais e percetíveis por todos, por expressões mais “pomposas” como por exemplo: Recursos Humanos por Capital Humano; Contínuo por Auxiliar de limpeza; Vendedor por Consultor Comercial.

Depois, ainda no domínio linguístico, segue-se todo um “vendaval” de anglicismos, tais como: web; browser; accountability; downsizing; compliance; meeting; upgrade; push; statement; advertise; expertise; site; link; delivery; outdoor; etc., etc., etc..

Passando a vertente estritamente linguística, somos confrontados com esta realidade a um nível mais macro, com alcance sistémico e organizacional, e aí entramos na própria atividade económica e das empresas.

Figuram-nos então organogramas com mil e uma “caixinhas” batizadas com os mais variados nomes (muitos deles também com designações estrangeiras), inúmeros procedimentos ou processos de gestão que depois se vão desdobrando em tantos outros subprocedimentos ou subprocessos, que não raras vezes apenas servem para complicar o que é simples, para engordar as organizações e para “encaixar” mais uns amigos.

Bem como a prática de levar a cabo reuniões atrás de reuniões, porque parece bem dar a ideia de que se está em grande processo de profunda análise e intensidade laboral quando na realidade o que se discute pouco releva para a organização, ficando quase sempre tudo por fazer e decidir numa outra reunião, e assim sucessivamente.

Sem esquecer a exiguidade cada vez maior no conteúdo dos textos escritos e na riqueza dos próprios vocábulos utilizados por exemplo em pareceres técnicos, informações internas ou relatórios de gestão, perante uma crescente adesão à sintetização extrema e à “powerpointização”.

Mas o fenómeno não fica por aqui e é também muito visível nos media e em particular no comentário televisivo, com os verdadeiros profissionais da opinião rápida e superficial que tanto pode ir da astronomia à culinária, passando pela política e pelo futebol, tudo na mesma pessoa.

Tudo isto revela-se depois muito útil aos vários intérpretes desta filosofia, na clássica fuga à responsabilidade pelo teor e alcance das palavras proferidas, pois tal responsabilidade é diretamente proporcional ao grau de exposição técnica, rigorosa e aprofundada dos assuntos.

Isto é, eu sou tanto menos responsável por aquilo que digo, quanto mais o fizer sob uma aparência de comentário ligeiro numa lógica generalista, de la palice e de bitaite.

E para concluir no estilo aqui criticado, poder-se-á mesmo afirmar que da mera fastfood, passámos para uma verdadeira fast, easy and empty life!