O primeiro-ministro da Índia e o presidente chinês realizaram uma reunião bilateral à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), em Tianjin, na China. Durante as conversas, Xi Jinping afirmou que as duas nações devem abraçar a parceria, afirmando ser vital que “o dragão e o elefante se unam”. Modi frisou que a paz e a tranquilidade nas fronteiras são essenciais para o progresso do relacionamento, num encontro que reforçou a parceria comercial entre os países e colocou ambos os líderes em concordância sobre Índia e China serem parceiras de desenvolvimento, e não rivais.
“Uma dança de cooperação do dragão [símbolo da China] e do elefante [da Índia] deveria ser a escolha certa para os dois países”, afirmou Xi. Uma dança ao som dos interesses de 2,8 mil milhões de pessoas de ambos os países que, diz Modi, estão vinculados à cooperação.
Segundo Modi, os dois países procuram autonomia estratégica e os seus laços não devem ser vistos pela lente de um terceiro país, aproveitando para abordar com o maior parceiro comercial bilateral da Índia o défice comercial de longa data — uma fonte persistente de frustração para as autoridades indianas —, que atinge o recorde de 99,2 mil milhões de dólares.
Não é de estranhar por isso que a Índia procure maior acesso aos mercados chineses e enfatize a expansão da cooperação em questões regionais e globais, incluindo práticas de comércio justo.
A reunião aconteceu dias após o presidente dos EUA, Donald Trump, impor tarifas de 50% sobre produtos indianos em resposta à compra de petróleo russo pela Índia. Uma medida tarifária que levou Modi e Xi a alinharem-se contra as pressões ocidentais na cimeira OCX, que contou com 20 chefes de Estado e Governo, incluindo Putin, para promoverem uma governança alternativa à ocidental numa era especialmente conturbada.
No encontro não faltaram recados a Trump e ambição de uma nova ordem mundial, com Xi Jinping a reiterar o apelo por um “mundo multipolar e uma globalização económica inclusiva”. Deixou claro o objetivo: um novo modelo de multilateralismo, o “espírito de Xangai”, num período de tensões geoestratégicas e comerciais. Uma outra globalização, na qual Pequim tenta impôr-se como pivô.
A montra de poder em Tianjin é apontada como um potencial ponto de viragem, com foco na confiança mútua e na visão estratégica de longo prazo, em detrimento de questões de curto prazo. É um marco na aproximação entre a Índia e a China, relação que estava congelada há mais de cinco anos e que resulta da pressão económica do presidente americano. Com a escalada tarifária contra os países do grupo BRICS, Trump forçou os emergentes a buscar alternativas estratégicas e comerciais.
O Tio Sam acabou por empurrar o Elefante para os braços do Dragão, enquanto a Índia, aliada histórica dos EUA na região, reforça os seus flancos com parceiros históricos como o Vietname. Trump tentou punir a Índia e pode ter cometido um erro histórico, fortalecendo laços entre Nova Deli e Pequim numa altura em que os EUA mais precisavam de dividi-los.