Para quem, como o autor destas linhas, acompanhou o sector das telecomunicações nos primeiros anos deste século, o atual panorama oferece um contraste notório.

Há doze ou quinze anos, empresas como a Portugal Telecom (PT), a Telefónica, a Vodafone e a France Telecom tinham posições dominantes nos seus mercados domésticos, estavam na linha da frente da inovação à escala global e detinham participações relevantes em potências emergentes.

Hoje, como notava esta semana o jornal espanhol “Cinco Dias”, estas grandes operadoras europeias são, em alguns casos, meras sombras do que em tempos foram.

A PT acabou integrada na Altice e, embora ainda seja a principal operadora portuguesa,  deixou de ser o grande player com aspirações a tornar-se um campeão lusófono à escala mundial. Já a Telefónica, que durante décadas constituiu um braço armado dos interesses espanhóis em três continentes, perdeu mais de 60% do seu valor em bolsa ao longo da última década e está agora na mira de uma operadora saudita. A britânica Vodafone é outro exemplo desta decadência relativa, com uma descida no seu valor em bolsa superior a 70%, ao longo dos últimos dez anos.

Isto acontece por um conjunto de razões que incluem escândalos de colarinho branco envolvendo grandes operadoras, a forte pressão regulatória, a concorrência das Big Tech e o facto de nos últimos anos as autoridades terem posto um travão nos movimentos de consolidação à escala europeia.

Quem beneficia com isto são os fundos que compram, aos poucos, os ativos das empresas de telecomunicações, bem como alguns players americanos e do Médio Oriente, que aproveitam a fraqueza das operadoras europeias. O elevado endividamento, a escalada da inflação e o afastamento de fornecedores chineses (que têm preços mais baixos que os seus concorrentes europeus) têm colocado pressão adicional sobre um sector que tem visto as suas margens cair todos os anos.

Independentemente de outros aspetos a ter em conta em áreas como a defesa do consumidor, a promoção da concorrência e a cibersegurança, talvez seja chegado o momento de a União Europeia e os governos nacionais olharem para este sector com outros olhos e decidirem onde estão os nossos interesses estratégicos no longo prazo.

Talvez seja a hora de retomar a ideia de, por via da consolidação, criar campeões europeus que façam da Europa um player a ter em conta no sector a nível global e não apenas um território a conquistar e dividir.