Esta semana, Trump finalmente assumiu a sua aliança com Putin e deu início à maior viragem da política externa norte-americana dos últimos 80 anos.

Não faltaram avisos sobre uma nova ordem global a ser formada nos bastidores e que financia o desmantelamento de democracias. A nova autocracia americana, que tem como representantes, por excelência, Trump e Musk, com o apoio dos multimilionários de Silicon Valley, não tem qualquer pudor em contribuir para essa nova organização mundial, despojada de princípios, valores ou respeito por direitos fundamentais.

Nunca foi tão barato e fácil para esses milionários financiar algoritmos que conseguem subverter e perverter o funcionamento das instituições.

A brutalidade desta viragem não é inesperada, mas não deixa de ser chocante. Os EUA e a Rússia reuniram-se na Arábia Saudita para umas putativas negociações de paz entre a Rússia e Ucrânia, nas quais os próprios ucranianos e a UE foram excluídos. Mais grave, os russos e os americanos estão a negociar sobre como vão esquartejar uma nação soberana e dividir entre si o território ucraniano e os seus recursos.

O discurso delirante de Trump fez soar os alarmes, desencadeando reuniões de emergência entre líderes europeus, mas o essencial está à vista: foi assumido, em pleno, o novo bloco russo-americano e isso são péssimas notícias para a União Europeia (UE) e os seus aliados, que acordaram tarde para o perigo.

Muitos irão apontar os fracassos da UE nas últimas décadas e, sem dúvida, há muito a criticar. No entanto, esta Europa tecnocrata e vulnerável a lobistas e agentes externos, ainda é uma Europa que se mantém firme na defesa do Estado de Direito. É a Europa que foi criada com o intuito de evitar novas guerras mundiais destrutivas, e ainda é uma Europa melhor do que a alternativa.

A alternativa consiste em regimes autoritários racionais e discretos, como o regime chinês, o regime proto-autoritário americano, que neste momento só consegue valer a sua Constituição em tribunais, ou o regime megalómano autoritário russo. O imperialismo nunca morreu verdadeiramente.

Uma nova guerra irrompe no horizonte e ainda não sabemos que formas irá assumir. Os EUA já não são um parceiro de confiança e a velha Aliança Atlântica está minada. Perante este cenário preocupante, precisamos de novas estratégias e lideranças que abandonem a inação e sejam firmes na defesa da ideia de liberdade enquanto não-dominação.