Tenho um ódio de estimação ao plástico, que tem crescido com os anos. Seja no deprimente copo de cerveja, no PVC das janelas, no chão de linóleo ou nas chupetas dos bebés é, muito possivelmente, uma das questões ambientalistas com a qual lido com mais dificuldade no dia a dia. Vejo nos objetos daquele material uma deslocalização de substâncias que deviam estar ou nas árvores da borracha ou nas profundezas do planeta, cuja utilização traz consequências graves até mesmo para a saúde humana.
Daí ter recebido com grande expetativa a notícia dos projetos de lei sobre a proibição do uso da loiça de plástico, a substituição por outros com materiais biodegradáveis e a interdição de uso em alguns setores. Isto na semana a seguir a ter calcorreado a cidade do Porto para encontrar copos e pratos de papel em quantidades substanciais, que precisei para uma festa. Não os havia em lado algum. Depois de ver na maioria das grandes superfícies e lojas de retalho, e após pesquisa na internet, cheguei finalmente ao clássico fornecedor de material de escritório. E nem aí havia as chávenas de café em papel. Definitivamente, não é fácil fugir ao plástico.
Dos projetos de lei, infelizmente ainda nada ficou decidido, sendo que agora os grupos da especialidade irão discutir o assunto e, provavelmente, chegar a soluções menos restritivas. No entanto, foram curiosas as críticas negativas às propostas que chegaram aos media e que impõem alguns esclarecimentos.
O problema da segurança, associado à “arma de arremesso” que é o vidro, foi referido pela ABZHP, esquecendo-se que o plástico pode ser substituído por papel no caso dos copos, e que as garrafas de plástico não são, para já, chamadas ao assunto. Por outro lado, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares (AHRESP), crê que a medida é um disparate a partir do momento em que reciclam o plástico, e que se envolvem com a economia circular.
Estas observações da AHRESP relevam da utilização leviana que cada vez mais é feita do conceito de economia circular, confundindo-a com reciclagem. A economia circular é, por definição, um sistema regenerativo no qual a entrada de recursos e a saída de resíduos, emissões e energia são minimizados, o que pode ser conseguido através do próprio design de produto, manutenção, reparação, reutilização, renovação e reciclagem de longa duração.
Neste caso, o problema existe a partir do momento em que se produzem talheres, pratos e copos em plástico. Sendo que estes objetos são facilmente substituídos por outros com menos impacto ambiental, e muito mais eficientemente recicláveis e reutilizáveis, como o metal, papel ou vidro, não faz sentido estar a gastar recursos de árvores exóticas ou derivados de petróleo na sua produção, pois o tal círculo torna-se muito mais difícil de fechar. E enquanto aguardamos a decisão por talheres e objectos afins, lembro que continuam na fila de espera as palhinhas, os balões e as garrafas de água.