Vivemos em tempos de narrativas intensas e extremas em todos os âmbitos da atividade. Da política à economia e até à tecnologia, a sociedade parece estar cada vez mais polarizada à volta de argumentos e conjeturas que estão cada vez menos suportados em factos e análises rigorosas. Os materialistas, os que ainda acreditam nos factos como fonte de veracidade, são permanentemente derrotados pelos subjetivistas, que esgrimem relatos emocionais, interpretações próprias do passado e projeções infundadas do futuro para justificar as suas crenças ou interesses.

Deparo-me com este sentimento quando olho para a situação da Catalunha, em que os dados concretos sobre o país, sobre a sua economia ou sobre a sua história parecem não interessar a ninguém, quer para defender uma posição ou a contrária.

No domínio económico, oiço cada vez com maior frequência falar da fé para justificar a sustentabilidade de negócios de empresas e de quadros macroeconómicos de países que não resistem a qualquer tipo de análise clássica.

E, na tecnologia, é ainda mais evidente o contraste entre os que acreditam no poder das novas tecnologias para mudar radicalmente e de forma acelerada a sociedade e os que, como eu, pensam que, para transformar o desenvolvimento tecnológico em crescimento económico, é preciso um quadro institucional que não se limite aos discursos inflamados dos empreendedores das startups ou dos xamãs das tecnoreligiões que acreditam no carácter omnipotente e messiânico da tecnologia.

Para centrar as discussões em factos é necessário efetuar as perguntas certas, e parece que a sociedade está a perder a sua capacidade de interrogar-se de uma forma objetiva e efetiva. Dispomos de forma crescente de uma infinidade de dados produzidos por sensores cada vez mais baratos e ubíquos nas cidades, nas fábricas e até no âmbito das nossas vidas privadas, mas falta-nos a capacidade de fazer as perguntas certas para transformar esses dados em informação útil e relevante para as nossas vidas.

Adicionalmente, a propagação de dados e de notícias falsas através das redes sociais contribui para desacreditar o conhecimento como referência de análise, embora os governos estejam felizmente a reagir com campanhas publicitárias perante os riscos de manipulação e de desinformação de uma parte crescente da sociedade.

Sem cidadãos minimamente informados, será cada vez mais fácil manipular e polarizar a sociedade, com um risco crescente de instabilidade e de recessão democrática.