A prisão de João Rendeiro, ex-CEO do Banco Privado Português, na Africa do Sul, numa operação liderada pela Polícia Judiciária (PJ) em estreita colaboração com as Autoridades e polícias locais, trouxe várias lições às quais devemos estar atentos. Independentemente da condição e dos factos que levaram à detenção do ex-banqueiro, a divulgação de fotografias do mesmo em pijama, seguida de fotos de polo cor-de-rosa, e que deveriam ter sido evitadas já que João Rendeiro tem direito à dignidade, à defesa da sua honra e à dignidade pessoal até ser formalmente encarcerado.

Posto isto não se pode pôr em causa a operação da equipa liderada por Luís Neves que é, a todos os títulos, assinalável porque demonstra a qualidade das polícias de investigação portuguesas, em particular da PJ, que merece o nosso respeito porque há anos que o ex-banqueiro parece troçar dos portugueses, das Autoridades e do próprio sistema judicial, tendo culminado com a sua fuga para o estrangeiro. Foi a PJ que pôs fim a esta espécie de humilhação pública que o antigo presidente do BPP parecia apostado em infligir aos portugueses, contribuintes e cidadãos zelosos e respeitadores das suas obrigações.

Foi a equipa liderada por Luís Neves que o fez. Não foi Francisca Van Dunem, agora na dupla qualidade de Ministra da Justiça e de Ministra da Administração Interna, não foi António Costa, nem foi qualquer outro responsável político que o conseguiram. O êxito desta operação deve ser todo assacado ao diretor nacional da PJ e a todos os envolvidos. Era esta explicação básica que alguém devia dar a Rui Rio, putativo líder da oposição e candidato a primeiro-ministro nas eleições de 30 de janeiro. Pasme-se, ninguém o alertou – no seu círculo mais íntimo, no seu núcleo duro político, ou na direção do PSD – para o rotundo erro político sobre o que é da justiça e, pior, o que é da investigação criminal e judiciária. A detenção de João Rendeiro nada tem a ver com as eleições legislativas do início de 2022, nada tem a ver com a performance política de Van Dunem e de Costa, muito menos terá a ver com o cenário de constituição do próximo Governo constitucional, seja ele mais à esquerda, seja ele de bloco central. E isto porque cada vez parece mais difícil o PSD reunir consenso à sua volta, quanto mais ganhar eleições, ou se tal viesse a acontecer, conseguir constituir governo por sua iniciativa que se pudesse afirmar e ser maioria na AR.

Rui Rio está, assim, nas mãos de Costa, é líder do PSD a prazo e durante o próximo ano iremos ver os efeitos disso mesmo. Muito provavelmente estas diretas no PSD que Rio ganhou quase inexplicavelmente, serviram para afastar Rangel de uma futura liderança e, quicá, até de nomes como Luís Montenegro. O próximo líder do PSD muito provavelmente será um de dois nomes: Passos Coelho, o desejado mas cada vez mais distante da espuma da política portuguesa, ou o refrescado Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa e cada vez mais o baluarte do centro direita.