No passado dia 4 de abril, António Guterres, Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), começou o seu discurso de apresentação do último relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) com as seguintes palavras: “O júri chegou a um veredito. E é condenatório. Este relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas é uma longa enumeração de promessas climáticas não cumpridas. É um arquivo da vergonha, catalogando os compromissos vazios que nos colocam firmemente no caminho para um mundo inabitável”.
Mas afinal, como chegámos até aqui? Nos últimos anos, o aumento das políticas e regulamentação dos riscos climáticos e atuação ambiental, a par de uma maior pressão por parte de consumidores e investidores, levou a que as empresas se comprometessem com metas ousadas para a redução da sua pegada de carbono e concretização de objetivos sustentáveis. Embora existam inúmeros casos de sucesso e exemplos dignos de destaque, houve também um incremento de casos de greenwashing, ou seja, práticas meramente simbólicas sem fundamentação substancial. Apesar do crescente número de promessas em prol de uma maior responsabilidade social e ambiental, infelizmente, o compromisso das empresas continuou a ser para com os seus acionistas e investidores e não para com a sociedade e meio ambiente.
Para que alcancemos as metas desejadas para 2030 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e 2050 (Acordo de Paris), tem de acontecer uma mudança estrutural, não só na forma como as empresas atuam no mercado, mas na forma como estas desenvolvem a sua cultura organizacional e definem o seu papel na sociedade. Três coisas a destacar: pessoas, planeta e propósito. Enquanto empresas, é importante perceber como é que é possível criar modelos de negócio, produtos e serviços que respondam às necessidades das pessoas e promovam o seu bem-estar sem prejudicar o meio ambiente. É um desafio, sem dúvida, mas a sua superação irá tornar as organizações mais competitivas, resilientes e lucrativas, tanto quantitativa como qualitativamente.
Esta transformação cultural das organizações requer uma forte aposta na comunicação como instrumento de diálogo e inclusão. Comunicar temas complexos e abstratos como a sustentabilidade, exige uma alteração do paradigma de comunicação tradicional e unidirecional – atualmente a maioria das empresas usa uma Comunicação de Sustentabilidade. As empresas têm de deixar de falar “de” sustentabilidade e passar a falar “para” a sustentabilidade. Enquanto visão comum para o futuro da humanidade, a sustentabilidade tem de ser um processo colaborativo e cocriativo. Tal como destaca o relatório do IPCC, este é um caminho que se faz com o contributo de todos (governos, organizações, comunidades, sociedade civil, media, entre outros).
Em contexto organizacional, esta adaptação exige a inclusão de mecanismos de envolvimento e ferramentas de ativação dos diferentes stakeholders e de uma comunicação direcionada, inclusiva, relacionável e, fundamentalmente, que saiba explicar o porquê com o quê – porque é que querem ser sustentáveis e o que é propomos fazer para chegar lá. Deixemos de lado a gíria e os clichés visuais e normalizemos a visão da sustentabilidade com histórias reais e tangíveis. Tal como salienta António Guterres “os líderes devem liderar. Mas todos nós podemos fazer a nossa parte”.