Na suposta crise da ala da direita na antecâmara das Eleições Legislativas, muito se falou de uma necessária refundação da direita. Mas será realmente essa a questão fundamental que nos fazem crer que resolverá todos os problemas ou apenas mais uma manobra de distração de quem padece de cegueira política crónica?

A refundação da direita foi um discurso consensual em muitos dos que se posicionaram para ocupar os lugares de candidatos numa já esperada corrida à liderança do CDS e PSD. Só pela refundação da direita seria possível a direita regressar a um lugar cimeiro e sobreviver à crise, diziam e uns quantos ainda dizem. Tretas.

Não só essa não é a origem da crise da direita, como a sua refundação decorre há algum tempo pela mão de novos protagonistas e partidos. A situação já é tão caricata que a direita divide-se entre os que trabalham e os querem ‘refundar’ qualquer coisa, a direita, o partido, o sistema, o que estiver mais à mão.

O desejo de ‘refundar a direita’ está para pretensos candidatos a líder e peões em bicos de pé como a posição de presidente da Câmara Municipal de Lisboa está para chegar ao cargo de primeiro-ministro. É um discurso oco que apenas serve para granjear notoriedade e algumas palmas, mas que em nada contribuiu quando nas Legislativas a direita perdeu mais de um milhão de votos e muitas cadeiras na Assembleia da República. Quem não percebeu isto, perdeu a corrida.

Os dois partidos pilares da direita – PSD e CDS – claramente não o perceberam ou decidiram ignorar todos os sinais. Em agosto, escrevi que ambos em vez de protagonizarem uma oposição aguerrida numa altura em que o país mais precisava, comandados por líderes cegos, optaram por desperdiçar esse capital e em guerras internas desmantelaram os dois grémios.

Chegados a outubro, e constatando essa evidência no resultado das eleições, só lhes restava uma saída – a demissão. Assunção Cristas percebeu o erro estratégico e assumiu a derrota. Rui Rio persistiu e continuou a pé coxinho. No próximo sábado, Rio perde as eleições e o PSD poderá aspirar a uma mudança de rumo com um novo líder, ou vence e o partido continua o seu caminho descendente para a irrelevância.

Por muitas análises possíveis, a verdade é que o CDS perdeu em toda a linha porque a líder caiu no erro de decidir governar com uma equipa elitista centrada em Lisboa, ignorando o resto do país e retirando o poder de decisão das concelhias. Esqueceu-se que o CDS é um partido tradicionalista e que o resto do país, e em particular o interior, constituía grande parte do seu eleitorado e apoio.

Rui Rio perdeu porque dividiu e tornou provinciano um partido que se queria nacional e elitista para ser forte. Sá Carneiro, portuense dos quatro costados, veio do Norte à capital nos anos quentes para criar um partido nacional e forte. Quatro décadas volvidas, Rui Rio está a ponto de transformar um partido nacional numa agremiação regional de Leça de Palmeira. O resto é paisagem.