Não vou escrever sobre a polémica dos blocos de atividades da Porto Editora. Até porque tenho mixed feelings sobre esse tema. Por um lado, acho que a desinformação levou ao exagero com a retirada dos livros do mercado, sobretudo depois de estarem à venda há mais de um ano, por outro, julgo que é de facto importante tudo o que transmitimos aos nossos filhos, a começar pelas imagens.
No entanto, esta polémica, e julgo que essa tenha sido talvez a melhor coisa que daqui saiu, obrigou toda a sociedade a refletir sobre a problemática da igualdade de género e os estereótipos que por aí existem. A mim, fez-me pensar em marcas infantis e no seu papel na educação das crianças.
Quando olho com maior atenção para a conceituada marca infantil Disney vejo estereótipos por todo o lado. Estamos a falar de uma das marcas mais valiosas do mundo, considerada em 2016 pela consultora Brand Finance a marca mais influente e poderosa de todas. É certo que actualmente o universo da Disney é muito mais do que a “Cinderela” ou a “Branca de Neve”, e muito mudou desde “A Pequena Sereia” que marcou o início de uma nova era. Ainda assim, a sua imagem de marca continua a ter princesas cor-de-rosa e príncipes heróis.
Se olharmos para a maioria do entretenimento infantil de hoje, embora moderno e com princesas mais independentes, continua a ser segmentado como o era em gerações passadas. Mas quando vemos os miúdos a brincar ou a ver televisão, percebemos que os gostos também se revelam desde cedo e as preferências entre meninos e meninas são muitas vezes tão evidentes que chegam a assustar os pais que nada fizeram para ter um filho que adora carros ou uma filha que só gosta de pentear bonecas.
Não me parece que consigamos demover o vasto número de marcas infantis que segmentam roupa ou brinquedos por cores, frases ou imagens e, muito sinceramente, questiono-me se devemos fazê-lo, porque apesar de feminista e defensora de direitos iguais não sou extremista, o que são coisas bem diferentes.
O princípio da igualdade de género é respeitarmos e aceitarmo-nos uns aos outros como iguais. E as marcas nascem para fazer dinheiro. É claro que uma marca que faça diferente ganha sempre em valor acrescentado para pais e encarregados de educação, mas isso nem sempre significa mais negócio. Veja-se o caso da DC Comics, que viu a sua heroína Mulher-Maravilha ser nomeada embaixadora oficial da ONU para a defesa do direito das mulheres para dois meses depois ser demitida do cargo. A escolha da personagem de banda desenhada gerou polémica e contestação por ser uma personagem “manifestamente sexualizada” e não uma pessoa real, que pudesse viajar ou falar. Mais sucesso teve o Ursinho Puff, que foi embaixador honorário da Amizade em 1998 e, 11 anos depois, a fada Sininho, que assumiu funções enquanto embaixadora honorária do Ambiente.
Hoje existem marcas para todos os gostos e feitios. Claro que devem ser objeto de controlo, não só de qualidade mas também de conceito, porque têm, sem dúvida, um papel fundamental na formação das crianças. Às marcas cabe-lhes um papel minucioso e difícil, o de promover a igualdade de género sem deixar de agradar a meninos e meninas. A nós, sociedade, compete-nos fazer o nosso trabalho o melhor que sabemos e ensinar o correto, sem histerismos.