Raro é o dia em que não são anunciados milhões de euros destinados ao investimento na educação, justiça, saúde, transportes, e, no entanto, qualquer destes serviços aparenta estar pior. Apesar dos investimentos de milhares de milhões de euros e do anúncio do crescimento do PIB, a economia portuguesa parece não descolar do seu destino – a estagnação.

Esta estagnação tem a ver, em grande parte, com a subida de preços, uma vez que incrementa a disparidade do poder de compra, com as famílias a dependerem cada vez mais do Estado para o seu dia a dia, desde a compra da alimentação à manutenção das casas.

Esta disparidade cria duas sociedades distintas, que se afastam até colidirem com maior violência. A subida contínua dos juros, com a Euribor a 12 meses acima dos 4%, vai causar um efeito demolidor em todas as classes.

Não será apenas a classe média a ser impactada, mas todo um país endividado, desde o Estado às famílias e empresários, que não tendo uma economia diversificada, dependem do investimento estrangeiro para dinamizar o sector imobiliário, o turismo, a indústria e os serviços. Sendo um país sem capital de risco, o aumento do custo do capital, irá afastar ainda mais Portugal da próxima onda de desenvolvimento.

Neste contexto, a subida dos juros cria “oportunidades” para algumas instituições, mas ao mesmo tempo enormes desafios para o cidadão comum que, com pouca literacia financeira, se vê envolvido no que pode ser publicidade enganosa. Desde promessas de rentabilidades esperadas em fundos de investimento aos spreads reduzidos no crédito à habitação, todo o cuidado é pouco.

Por exemplo, no caso do crédito à habitação mais do que o spread há que olhar para a Taxa Anual de Encargos Efetiva Global, onde são incorporados todos os custos, e procurar perceber se é comportável para o devedor ou não.

O sistema político não conseguiu reformular o sistema financeiro quando era possível, seja pelo lobby da indústria, seja por outros fatores, nomeadamente, dividir a banca comercial do investimento compartimentando os riscos. Iremos voltar a viver os mesmos problemas de endividamento, mas desta vez será diferente.

Os bancos estão mais resilientes e vão aguentar melhor o próximo impacto, mas o que dizer das famílias? Se a habitação deve ser protegida, então, em vez de subsídios, porque não criar uma taxa Euribor reduzida, e até inferior à taxa de deposito do BCE, para a primeira habitação, garantindo que o custo para as famílias é estável e previsível, retirando desta forma incerteza às famílias?

É necessário pensar em soluções fora da caixa e com urgência antes que as divergências nos afastem a todos de vez.