Andamos eufóricos porque a maioria os dados económicos do país são excelentes. Todos? Não. Há um que resiste e resistirá, parece que sempre, à confiança que invade o país. A dívida pública que desce relativamente ao PIB, porque este está a crescer, continua, de acordo com os dados de 2016 e os já conhecidos para 2017, a aumentar a uma velocidade cada vez maior.
Muitos dir-me-ão que não há problema que a dívida suba se estivermos mais ricos. Na verdade, será melhor termos 1 euro e não devermos nada ou termos 100 e devermos 130? Com 100 sempre fazemos mais do que com 1. Além de a questão estar mal colocada – países como o Canadá, a Suécia e a Nova Zelândia, que fizeram reformas no Estado, têm 100 e devem apenas 50, 40 ou mesmo 30 – ela esquece o efeito devastador que é um país estruturar a sua economia numa dívida.
O nível da dívida pública é a maior ameaça às democracia ocidentais desde o nazismo e o comunismo. E não é de agora: foi a dívida que liquidou o império romano, tal como o espanhol e também a monarquia portuguesa. Pouca coisa é mais mortífera que uma dívida que mina a confiança nas instituições e divide as pessoas forçando-as a pagar mais e mais impostos até ao descalabro do Estado.
Se o nazismo e o comunismo foram essencialmente ameaças militarizadas, também se infiltraram nos países ocidentais. O Reino Unido não podia ter um rei que simpatizasse com Hitler e a URSS tinha nos vários partidos comunistas na Europa Ocidental, entre os quais o PCP, as suas quintas colunas para subjugar o Estado de Direito e as liberdades individuais conseguidas com sangue, suor e lágrimas.
A dívida pública é uma ameaça do mesmo calibre. Há quem sorria com isto porque não compreende que a Frente Nacional é o resultado do falhanço do Estado social em certas regiões francesas, que os desejos de independência na Catalunha não teriam lenha para se queimar se as contas públicas, espanholas e catalãs, estivessem de boa saúde. Não compreende como a dívida vicia de tal forma uma economia que, nos EUA, o crescimento conseguido por Obama ajudou à insatisfação que levou Trump à Casa Branca.
E também em Portugal. Ou não fosse a dívida pública o que levou o PS a juntar-se a partidos extremistas para governar o país e evitar, dessa forma, o mesmo destino de outras forças socialistas na Europa. O PS governa para evitar as reformas que a dívida obriga e é nessa medida que tem o apoio do PCP e do BE. A ideia é varrer o problema para debaixo do tapete esperando que este seja suficientemente grande para abarcar tudo. E enquanto for, o mal-estar que existe, a divisão entre os que beneficiam do sistema e os que o sustentam, agrava-se. Nem quero imaginar como vai ser quando acabar o tapete.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.