O modo de vida atual depende profundamente de produtos tecnológicos que satisfazem necessidades diversas, desde a saúde à educação. Contudo, a sua produção requer acesso a uma crescente variedade do que chamamos de Materiais Críticos, mais conhecidos como CRM, do inglês Critical Raw Materials. A dependência destes Materiais Críticos é cada vez maior: para exemplificar, enquanto um telefone analógico usava 11 elementos da Tabela Periódica, sem qualquer CRM, um smartphone moderno requer 21, todos críticos.
Os Materiais Críticos são hoje cruciais a qualquer economia. Mas o aprovisionamento em CRM enfrenta múltiplos desafios: concorrência por recursos escassos, crescimento populacional, volatilidade dos preços, desigualdade na distribuição geográfica, monopólios, embargos e conflitos armados. E o constrangimento mais inelutável de todos: o facto de que os recursos do planeta são finitos, o que inevitavelmente levará, um dia, a que se esgotem as reservas existentes.
A verdade é que o modelo económico linear de extração, produção e descarte é insustentável. Torna-se essencial adotar a Economia Circular dos Materiais, onde os componentes de produtos no fim de vida útil são recuperados, reciclados ou reutilizados. Este modelo visa preservar o valor dos CRM e reduzir desperdícios, emissões e consumo energético. Por exemplo, para produzir o ouro de uma aliança, são necessárias 10 toneladas de minério; reciclando 10 kg de telemóveis usados, obtém-se a mesma quantidade de ouro com menor custo ambiental.
Na corrida aos CRM, a União Europeia está numa posição particularmente desfavorável, pois o seu território é praticamente desprovido de fontes destes materiais, obrigando à importação da esmagadora maioria dos mesmos. Para mitigar esta vulnerabilidade, no âmbito do European Green Deal e das Transições Energética e Digital, a UE promove a Economia Circular dos Materiais há mais de uma década.
Listas trienais identificam matérias-primas críticas, e medidas normativas, como a recuperação quase total de materiais em veículos e a redução de resíduos plásticos e eletrónicos, têm impactado a indústria europeia. A Educação e a Investigação Científica são também vetores fundamentais, com iniciativas como o Mestrado em Materiais Avançados e Reciclagem Inovadora (AMIR) e o desenvolvimento de novos materiais para reduzir a dependência de CRM.
Ao nível nacional, setores económicos, especialmente os exportadores, começam a adaptar-se às diretrizes europeias. A Investigação e Desenvolvimento no Sistema Científico e Tecnológico nacional tem priorizado a Economia Circular dos Materiais, embora o primeiro levantamento nacional sobre dependência de CRM só tenha sido concluído em 2022, abrangendo sete setores.
Em suma, a Economia Circular dos Materiais é essencial para o sucesso das transições digital e energética, o European Green Deal e o Desenvolvimento Sustentável. Este paradigma trará mudanças económicas, promovendo modelos de negócio mais eficientes, e alterará padrões de consumo, favorecendo as opções mais sustentáveis e duradouras em detrimento das mais passageiras e que requerem maior consumo de recursos.
E porque todos, tanto no plano coletivo como individual, estaremos implicados, temos que olhar para tais desafios mais como um conjunto de oportunidades do que como uma sucessão de dificuldades.