E se lhe dissesse que o crescimento económico de um país depende tanto da confiança entre cidadãos e empresas quanto do investimento estrangeiro? Que a produtividade não se faz apenas com tecnologia e inovação, mas com diálogo? A realidade é que a economia não se baseia apenas em números, mercados e investimentos – ela depende fundamentalmente da qualidade das relações humanas.
Enfrentamos desafios estruturais que vão desde a polarização do debate público até à crescente ansiedade social e política. A incerteza atravessa a economia, as relações de trabalho, a confiança nas instituições e a própria saúde mental da população. Mas, no centro de tudo isto, está uma competência fundamental que tendemos a desvalorizar: o diálogo.
O diálogo não é apenas um instrumento de entendimento interpessoal, mas um verdadeiro motor da economia e da mudança social. É através do diálogo que se criam consensos, que se resolvem conflitos, que se constrói confiança e que se impulsiona inovação. Numa economia moderna e globalizada, a confiança e a capacidade de colaboração são ativos tão valiosos como o próprio capital financeiro.
A economia do comportamento e das relações, amplamente influenciada pelos princípios da psicologia, tem demonstrado como pequenas mudanças no ambiente e na forma de comunicar podem ter impactos profundos na produtividade, na poupança e até na sustentabilidade ambiental. Da mesma forma, as empresas que promovem ambientes de trabalho baseados em segurança psicológica, empatia e diálogo apresentam equipas mais resilientes, inovadoras e comprometidas.
A confiança não se impõe, constrói-se. Na política, no setor empresarial ou na sociedade civil, os países que conseguem promover espaços de diálogo inclusivos são aqueles que melhor lidam com crises e que mais rapidamente recuperam o crescimento económico, mas também social. A coesão social e o bem-estar psicológico das populações não são acessórios. São condições essenciais para o progresso económico e para um tecido empresarial e institucional saudável.
Portugal precisa de uma cultura de diálogo. Com uma identidade cultural marcada pela proximidade e capacidade de adaptação, o nosso país tem todas as condições para se afirmar como uma referência na construção de uma sociedade mais dialogante, mais colaborativa e mais inovadora.
Mas há desafios a superar. O discurso público tem sido progressivamente dominado por excesso de informação contraditória e desinformação, pela crispação e pela lógica do confronto. Isto afasta as pessoas da participação cívica e política e fragiliza a nossa democracia.
Vimos isso com a proliferação de teorias da conspiração durante a pandemia, que geraram desconfiança na comunicação dos governantes e dificultaram a implementação de políticas de saúde pública e a adesão dos cidadãos a medidas de prevenção. Também já todos assistimos a debates sobre habitação e inflação, onde discursos polarizados substituem frequentemente a procura de soluções objetivas e sustentáveis.
O mesmo acontece nas empresas. A falta de comunicação genuína e eficaz impacta a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores.
Os relatos de burnout em setores como a saúde e a educação refletem não apenas a sobrecarga laboral, mas muitas vezes falhas na comunicação entre gestores e equipas, que levam a um sentimento de desvalorização e exaustão.
Ou ainda nas escolas, onde o treino de competências sociais e emocionais continua a ser visto como algo secundário, quando sabemos que estas são fundamentais para o sucesso presente e futuro das crianças e jovens.
O aumento dos casos de violência escolar e bullying, muitas vezes agravado pelo impacto das redes sociais, demonstra a necessidade urgente de desenvolver desde cedo o diálogo e a empatia como ferramentas essenciais para a vida.
Em contraponto, os psicólogos são, pela natureza da sua profissão, facilitadores do diálogo e do desenvolvimento. Ganham terreno diariamente na transformação do comportamento humano, na melhoria da regulação emocional e no apoio a processos de decisão. Um trabalho que recorre ao diálogo como ferramenta, não apenas em espaço de consultório, mas no espaço público e empresarial.
No combate à pobreza, os psicólogos cooperam com municípios na implementação de programas sociais, trazendo à mesa o diálogo com decisores políticos, técnicos de ação social e as próprias comunidades, para desenhar estratégias mais eficazes de promover a autonomia das famílias.
No mundo empresarial, facilitam o diálogo entre equipas em conflito, ajudando trabalhadores e empregadores a expressar preocupações e encontrar soluções construtivas para melhorar a produtividade sem comprometer o bem-estar.
Nas escolas, apoiam professores na gestão da sala de aula com alunos de diferentes origens culturais, promovendo o diálogo entre estudantes para evitar discriminação e fomentar um ambiente de respeito mútuo.
Nos serviços de saúde, trabalham com equipas médicas para melhorar a comunicação com doentes crónicos, reduzindo a ansiedade associada ao tratamento e garantindo uma melhor adesão às recomendações clínicas.
Desde os desafios da inclusão social até à adaptação às novas dinâmicas do mercado de trabalho, o contributo da psicologia para a economia e a mudança social é inegável.
A psicologia deve ocupar um lugar central no debate sobre o futuro do país. A promoção da saúde psicológica e do bem-estar da população não pode ser vista apenas como um imperativo ético, mas também como um investimento estratégico para o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento da democracia.
Sociedades mais saudáveis são também mais produtivas, mais inovadoras e mais resilientes.