Neste período que vivemos é inevitável falar de futebol! Perdoem-me os entendidos a minha ignorância, mas acho que há alguns factos que são óbvios e que revelam muito acerca dos portugueses.
Daquilo que consigo entender e do que ouço dos especialistas lá de casa, temos, do ponto de vista de jogadores individuais, uma das duas ou três melhores seleções europeias. Se isto é assim, a nossa superioridade deveria ser esmagadora. Não devíamos sofrer quatro golos da Alemanha, nem estar ansiosos à espera do jogo com a França (por alturas da escrita desta crónica ainda não sei o resultado…) para saber se passámos da fase de grupos. Certo que calhámos no grupo da morte, mas pelo menos um excelente terceiro lugar dever-nos-ia garantir a passagem.
No meu entendimento de leiga, o nosso problema tem a ver com falhas do ponto de vista de sistema organizativo. Falta-nos liderança, estratégia e organização. Falta-nos a capacidade para potenciar os talentos individuais e garantir que a soma é maior do que as partes. É assim no futebol e é assim na economia. Temos engenheiros de primeira qualidade, temos técnicos informáticos (e não só) fabulosos, temos enfermeiros que se destacam por este mundo fora, em suma, temos trabalhadores de excelência em áreas qualificadas. Mas a verdade é que temos sistematicamente baixas produtividades e somos genericamente pouco competitivos. Mais, quando estes mesmos trabalhadores (e até os não tão qualificados) são postos a trabalhar sob uma direção alemã (por exemplo) ou são postos a “jogar” lá fora, funcionam muitíssimo bem em coletivo, com elogios rasgados das organizações e dos seus diretores. Andámos há anos a tentar convergir com a Europa e estamos sempre na cauda. Só melhoramos a nossa posição quando entram no ranking mais países menos desenvolvidos do que nós, nunca por nos aproximarmos do topo.
Tivemos acesso a um volume substancial de fundos e financiamento ao longo das décadas de 80 e 90, e embora tenhamos dado um salto evolutivo enorme (nomeadamente em termos de educação formal), continuamos longíssimo da Europa desenvolvida. Fizemos opções duvidosas, não industrializámos, apostámos em não transacionáveis, e coletivamente continuámos a não ser superiores. Agora vamos tornar a ter acesso a uma “bazuca financeira”, que nos pode ajudar a dar o tal salto coletivo.
Sei que não é um problema fácil de resolver e que muitas das soluções só são possíveis no médio e longo prazo. O desenvolvimento de determinadas competências tem de ser feito via educação e a mudança de paradigma cultural só se faz de forma lenta. Mas temos que identificar bem o problema e procurar as soluções já.
Com excelência individual não deve ser possível continuarmos a tremer perante a Alemanha. Não podemos ter mais uma oportunidade perdida. E sobretudo, não podemos estar sempre à espera que tenhamos um Eder para marcar o golo da vitória aos 109 minutos de jogo.