Faz falta debater-se em Portugal a economia realista: aquela que de facto tem, e vai ter, impacte na vida de todos nós. Aquela que todos parecem ignorar por cá e que, pouco ou nada, se ouve falar na TV. Aquela que, a seguir à área da inteligência artificial, é a que tem maior oferta de trabalho no mundo, mas que ainda não se ensina de forma democratizada nas escolas. Aquela que alguns pais, pensando que estão a aconselhar bem os filhos, dizem “não vás por aí que não há mercado”.
Estou a falar da área da economia sustentável, gestão sustentável e financiamento sustentável. Aquela em que é preciso saber de economia, finanças, banca, ambiente, engenharia, psicologia e comunicação sendo necessário uma elevada dose de criatividade e pensamento estratégico crítico. Tudo características que nem sempre são bem desenvolvidas pela maioria das universidades…
Quem pensa que este tema é apenas europeu, também se engana: em todos os continentes existem vários países que estão a definir critérios, ou já definiram, sobre o que são atividades económicas verdes e em transição para uma economia menos poluidora e com menores emissões de CO2. Porquê? Porque se não o fizermos o PIB mundial poderá baixar cerca de 14% em 2050 devido aos impactes e perdas na economia que ocorrerão por causa de desastres ambientais.
Na realidade, um aumento da atividade económica assente em combustíveis fósseis gera, atualmente, um aumento de emissões de CO2 tal, que implica um aumento significativo da temperatura do planeta, que por sua vez vai alterar de forma severa o clima como o conhecemos (com as quatro estações), o que vai levar a perdas económicas tais, que poderão originar perdas significativas do PIB dentro de cinco a dez anos. Ou seja, também o investimento público e privado, que na fórmula original faz aumentar o PIB, poderá na realidade contribuir para a sua diminuição num futuro agora próximo, se esse investimento implicar mais CO2 para a atmosfera, i.e., se contribuir para o aumento da temperatura.
As alterações climáticas, que já estamos a sentir, poderão implicar para Portugal mudanças significativas, e é urgente conseguir-se investir na resiliência e na adaptação necessária. Num país com população envelhecida, um aumento das ondas de calor levará a mais doenças e mortes (logo mais despesa pública); num país onde os fogos são um dos maiores riscos e onde as ondas de calor e as secas aumentam, o Turismo pode diminuir, a agricultura pode perder produtividade, as exportações podem baixar, etc. (logo menos receita para o Estado).
Num contexto de risco climático, os preços dos bens e serviços podem também aumentar, devido a uma catástrofe ambiental que destrua recursos ou devido a políticas públicas urgentes que levam ao aumento de preços pelo mercado. É por isso que estes temas – riscos climáticos e ambiente – estão hoje presentes, e de forma crescente, na atividade dos bancos centrais de todo o mundo. A estabilidade de preços depende também da possibilidade de ocorrência de riscos climáticos, e como tal o clima passa a ser um tema trabalhado ao nível da supervisão e da estabilidade financeira dos bancos centrais.
Se assim é, então a banca comercial irá em breve ter de justificar que possui os requisitos de capital adequados ao risco climático que tem na sua carteira. Para saber isto, tem de perguntar aos seus clientes um conjunto de informação nova que lhes permita avaliar o risco climático das empresas a quem empresta dinheiro, pois vai precisar de lhes atribuir um rating de risco climático que impactará o rating financeiro final da empresa.
Consequentemente, as empresas terão de conseguir disponibilizar informação sobre como estão a reduzir os seus impactes ambientais, e como estão a incorporar o risco climático na sua gestão. Para tudo isto existem regulamentos europeus e diretivas que ajudam as empresas financeiras e não financeiras a reportar esta informação. Mas tudo isto é novo. É interessante, e pessoas com conhecimento precisam-se urgentemente. Há que reforçar e reconhecer a importância desta área para permitir aos jovens de hoje aproveitar as oportunidades de trabalho útil e digno que o tema traz…