António Mexia anunciou que “a EDP foi e continua a ser o abono de família para o Estado”. Esqueceu-se de completar: E “a EDP foi e continua a ser” um bom, um verdadeiro abono de família ‘euromilhões’ para António Mexia. E mais alguns.

Mas devemos ser rigorosos. A EDP remodela governos, e não pede nada por essa operação de consultoria. Determina quem governa a energia: dois secretários de Estado da Energia – os quais foram atropelados pelo veículo dos interesses accionistas da EDP.

A EDP financia universidades. 1,2 milhões de euros com Pinho na Universidade de Columbia. Não sei quanto no ISEG, mas obteve um estudo que confirma todas as suas teses, mais um Honoris Causa. E mais 1,5 milhões no campus da Nova SBE em Carcavelos, em investigação no DCIAP, que fez outro estudo a confirmar o do ISEG, que já tinha confirmado o da consultora NERA. Confirmam: a EDP não teve “rendas excessivas” mas prejuízos.

A EDP aguenta com a tarifa social, ou seja, é uma espécie de Santa Casa da Electricidade. Mas protesta: responsabilidade social sim, mas não na Tarifa Social. Tem que ser o Estado a aguentar.

A EDP é um tabelião do Estado a redigir leis e regulamentos, e não cobra emolumentos. A EDP redige resoluções do Conselho de Ministros (RCM 52/2004), elabora Decretos-lei (240/2004), escreve Portarias (Portaria 85-A/2013). Mas não decide. Não, “o Governo decide”, diz Manso Neto. Que acrescenta: “Redigir uma proposta de decreto-lei, a pedido do Governo, que o Governo depois, pode emendar, cortar e decidir, não vejo sinceramente, onde está o crime.” É uma “interação” “normal.” “É uma grande empresa”. Claro.

A EDP é um lar do Estado para ex-ministros desempregados, e não pede subsídios à Segurança Social. Cinco ex-ministros do PS, PSD e CDS no Conselho Geral e de Supervisão da EDP, mais o ex-ministro CEO. A substituição de Catroga no CGS, fez entrar um 6º ex-ministro. Não. Nada disto tem a ver com a promiscuidade dos interesses privados com o Estado, trata-se de ganhos de “inteligência” e “experiência”, segundo Manso Neto.

A EDP descobriu o novo capitalismo sem riscos. Diz Mexia: “As pessoas gostam de estabilidade, gostam que as regras do jogo sejam mantidas”. Não leu os folhetos das privatizações da EDP e REN da CMVM, que alertavam os investidores para os “riscos regulatórios”. Pela descoberta ganhou o Honoris Causa.

A EDP é um depósito de adidos: quadros especialistas para directores-gerais, assessores de gabinetes ministeriais, gestores públicos e privados, etc., e ninguém lhe paga essa formação.

A EDP é uma espécie de BCE. Fixa taxas de juro. Produziu a Portaria 85-A/2013, onde diz ao Estado quanto vai pagar de taxa de juro dos encargos financeiros da parcela fixa dos CMEC.

A EDP paga impostos, quando paga, porque se o governo não lhe der aquilo que ela quer, não paga! E acha que pagar impostos (como as outras empresas) é ser o abono de família do Estado. A EDP considera a CESE e o IEC como corte de “rendas excessivas”. De acordo com António Mexia.

A EDP é de facto o abono de família do Estado. Sem a EDP, o Estado não funcionava. De facto, um verdadeiro canivete suíço de sucessivos governos do PS, PSD, CDS. O detalhe que estraga isto tudo são as tarifas da energia eléctrica que pagamos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.