O combate à inflação está a servir de desculpa para os bancos centrais normalizarem as taxas de juro e corrigirem um erro que teve consequências desastrosas e que começam agora a fazer-se sentir.

A principal consequência do dinheiro barato prende-se com o facto de a generalidade dos governos europeus não ter tido qualquer incentivo para diminuir a dívida pública e implementar reformas nas suas economias. Ao invés, enveredou-se por políticas de aumento da despesa pública com pouco ou nenhum critério económico-social.

Não nos podemos esquecer que associado a um empréstimo, que foi a forma de financiamento dos governos, está também associado o risco. Cada país tem uma capacidade distinta de captar investimento, cobrar impostos e gerar riqueza; e cada país tem tecidos económico-sociais distintos, daí terem riscos perceptíveis diferentes, medidos pelo juro. Quanto maior o juro exigido pelos investidores, maior o risco associado ao país.

Durante o período da compra de títulos por parte do Banco Central Europeu (BCE), assistimos a irracionalidades apenas explicadas pela simples forma do BCE, que distorceu o mercado e influenciou os investidores. Ainda em 2021, os juros da Grécia chegaram a ser inferiores aos de Itália, sendo que estes dois países conseguiram ver os seus juros a 10 anos abaixo de 1%! Relembro que estes países têm o maior endividamento da zona euro e, com isso, um risco que agora está a regressar em força.

O BCE, preocupado com a inflação, que já vinha a ganhar tracção em 2021, comete o erro de retirar, simultaneamente, todos os estímulos monetários, o que é aliás comum à Reserva Federal (Fed) dos EUA. O principal factor de risco para as economias não tem a ver com a subida dos juros, ou a normalização da política monetária, mas com o fim da compra de activos que foi a chave para manter os diferenciais de juros entre países da zona euro em níveis baixos e afastar o receio dos investidores acerca do fim do euro.

O BCE esqueceu-se deste receito, mas os investidores não. Assim que é anunciada a intenção de retirar todos os estímulos, observámos o regresso do risco real das economia na zona euro através da subida dos juros nos países periféricos.

Numa situação de incerteza internacional, com um conflito grave na Europa, interrupções na cadeia de abastecimento e subida do preço da energia, retirar o suporte da compra de activos vai ter custos incomportáveis para a maior parte dos agentes económicos e das economias europeias.

Mesmo nos EUA, a Fed está a cometer o erro de não considerar a opção de poder continuar a comprar obrigações colateralizadas por imobiliário. Decisão que já provocou a subida dos juros de crédito hipotecário a 30 anos, dos 3% para 6% ao ano. A consequência deste erro da política monetária de ambos os lados do Atlântico, se não for rapidamente corrigida, será um aumento exponencial dos incumprimentos por parte de empresas e famílias.

Ora, o mercado espera que a Euribor no final de 2023 atinja os 2,5%. A emergência do BCE deverá ser a contenção da escalada dos juros, assim como acalmar os agentes económicos por forma a que um abrandamento da economia não se transforme numa recessão e no regresso dos receios do fim do euro.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.