A guerra entre a Ucrânia e a Rússia, que já dura há três anos, continua a moldar o cenário geopolítico europeu. Nas últimas semanas, a Administração Trump tomou um conjunto de posições púbicas que visaram intencionalmente enxovalhar a Europa. Mas não só, o mundo também assistiu em direto ao inaudito enxovalho a que Zelensky foi sujeito pelo Presidente Tump e pelo seu Vice-presidente J.D. Vance.
A sucessão de casos levou a que esta semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tenha anunciado um plano abrangente para rearmar a Europa, destacando a necessidade de um reforço orçamental significativo na área da defesa. Paralelamente, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán – conhecido simpatizante de Putin – acusou os líderes europeus de prolongarem o conflito, em vez de procurarem uma solução de paz.
Na minha opinião, os interesses de Putin ficam acautelados se existir uma aceitação internacional dos territórios já conquistados à Ucrânia e se através de um qualquer “aparente” acordo ele consiga que as sanções à Rússia e aos seus oligarcas sejam aliviadas. Acresce que, o estabelecimento de um acordo entre as partes, que levará à suspensão do conflito, mais não será do que um longo cessar-fogo, que permitirá a Putin e às suas tropas reforçar a capacidade bélica para, assim que possível, voltar a invadir o território ucraniano.
Esta guerra na Ucrânia trouxe à tona a fragilidade da segurança europeia. A necessidade de rearmar a Europa, como proposto agora por Von der Leyen, implica um aumento significativo nos gastos com defesa, o que pode pressionar os orçamentos nacionais a desviar recursos de outras áreas essenciais, como saúde ou educação. Além disso, a nossa fragilidade ainda é maior dada a dependência energética da Europa em relação à Rússia. A interrupção do fornecimento de gás e petróleo russo pode levar a uma crise energética na Europa, afetando a economia e o bem-estar dos cidadãos europeus.
Apesar dos desafios, a situação atual também apresenta oportunidades para a Europa. O plano de rearmamento pode impulsionar a indústria de defesa europeia, através da criação de empregos e da estimulação da inovação tecnológica. Além disso, a crise pode servir para fortalecer a União Europeia como um bloco coeso e resiliente. A diversificação das fontes de energia e o investimento em energias renováveis também podem emergir como soluções sustentáveis a longo prazo.
O plano de rearmamento europeu proposto por Von der Leyen está alinhado com as recomendações do relatório de Mario Draghi sobre a competitividade da União Europeia. Draghi destaca a necessidade de um financiamento robusto e coordenado para fortalecer as capacidades de defesa da Europa, sugerindo que a UE deve mobilizar entre 750 a 800 mil milhões de euros por ano para acompanhar o ritmo de concorrentes como os EUA e a China.
Este investimento não só aumentaria a segurança europeia, mas também impulsionaria a inovação e a competitividade industrial, criando um ciclo virtuoso de crescimento econômico e segurança.
Além disso, Draghi enfatiza a importância de uma abordagem conjunta para financiar projetos de defesa, utilizando instrumentos de dívida comuns da UE. Esta estratégia garantiria que os recursos necessários para a pesquisa, desenvolvimento e inovação no setor de defesa sejam adequadamente fornecidos, evitando lacunas críticas na segurança europeia. A implementação dessas recomendações pode transformar a Europa num líder global em tecnologia de defesa, ao mesmo tempo que fortalece a sua posição geopolítica.
O presente contexto comporta riscos significativos associados ao prolongamento do conflito. Um dos riscos é futuro da NATO que está fortemente comprometido pelas decisões da Administração Trump. Também é uma realidade que a escalada militar pode levar a um confronto direto entre a NATO e a Rússia, com consequências imprevisíveis para a segurança global. Além disso, a retórica de líderes como Viktor Orbán, que acusa os líderes europeus de prolongarem a guerra, pode minar a coesão interna da União Europeia e enfraquecer a sua posição no cenário internacional. É verdade, vivemos tempos muito difíceis e de enorme imprevisibilidade.
A guerra na Ucrânia coloca a Europa numa encruzilhada. As decisões tomadas agora terão repercussões duradouras para a segurança, economia e coesão política do continente. É imperativo que os líderes europeus encontrem um equilíbrio entre a necessidade de defesa e a busca pela paz, garantindo que a Europa possa emergir desta crise mais forte e unida.