Como os Grandes Modelos de Linguagem poderão democratizar a programação.

Com o aparecimento dos novos grandes modelos linguagem, como o já “ilustre” GPT-4, presenciamos uma nova tendência na interação entre seres humanos e computadores. Estes modelos, através da inteligência artificial, decifram e produzem textos humanos com uma eficácia notável. As suas aplicações abrangem desde assistência ao cliente até à geração de ideias inovadoras e dissertações académicas.

Contudo, uma das suas promessas mais excitantes reside na habilidade de atuar como uma interface natural para a interação com os computadores, com potencial para democratizar a programação e minimizar a lacuna digital entre os que possuem competências na área da programação.

A programação, até este momento, tem sido do domínio de indivíduos com competências técnicas avançadas e conhecimento específico. Essa realidade tem restringido a acessibilidade e inclusão de muitos, particularmente daqueles que não tiveram ou desenvolveram competências em ciências da computação.

Aprender a programar pode ser uma jornada intrincada e demorada, repleta de obstáculos e barreiras. No entanto, a chegada desses modelos linguísticos promete abreviar este processo, tornando a programação mais permeável a todos, independentemente da sua formação ou nível de competência.

Antevê-se que estes modelos linguísticos poderão servir como um canal natural entre o utilizador e o computador, permitindo uma “conversação” em linguagem natural ao invés da escrita de código complexo. Isto implica que a programação poderá transformar-se mais em instruir um assistente inteligente do que em resolver enigmas lógicos e matemáticos.

Esta nova forma de interação tem o potencial de desbravar o universo da programação para uma maior parte da população, democratizando a criação de software e possibilitando que um público mais diversificado crie, modifique e compreenda a tecnologia.

As implicações não se confinam à indústria de software, mas poderão contribuir de forma significativa para a redução da discrepância entre ricos e pobres. A literacia digital e a capacidade de programar são cada vez mais essenciais na nossa economia digital, e aqueles que são excluídos desta realidade correm o risco de marginalização crescente. Ao tornar a programação (ou a interação com um computador) mais acessível, os modelos de linguagem podem nivelar o terreno de jogo, concedendo a todos a oportunidade de participar na economia digital.

Com a disseminação desta tecnologia, mais indivíduos de diferentes origens e níveis de competência terão a oportunidade de se tornarem produtores de tecnologia, ao invés de meros consumidores. Isto poderá resultar numa explosão de criatividade e inovação, à medida que pessoas antes excluídas da criação de software começam a contribuir com suas perspetivas e ideias singulares.

No entanto, é crucial salientar que este é um potencial ainda em processo de amadurecimento e que enfrenta desafios. Os grandes modelos de linguagem necessitam de mais tempo e treino para entender e gerar (melhor) código, o que pode ser complexo. Além disso, é imperativo garantir que a tecnologia seja usada de maneira responsável e ética.

Apesar disso, o potencial é vasto e, com o contínuo desenvolvimento e aperfeiçoamento destes modelos, podemos estar no limiar de uma nova era de democratização da programação. O acesso a esta inovadora tecnologia, aliado ao adequado treino e educação, poderá contribuir para a diminuição de lacunas digitais, promovendo o processo de transição digital em que Portugal quer apostar, possibilitando um futuro onde todos tenham a oportunidade de participar na economia digital.

As novas fronteiras da interação em linguagem natural com os computadores, através dos grandes modelos de linguagem, são promissoras e poderão trazer uma revolução na maneira como interagimos e moldamos a tecnologia ao nosso redor, podendo contribuir para moldarmos um futuro mais participativo e inclusivo.

O autor assina este artigo na qualidade de responsável pela relação entre a psicologia e a tecnologia na Ordem dos Psicólogos Portugueses.