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A era do ‘contactless’, quando menos quer dizer mais

A pandemia habituou-os às inovações nas formas como pagamos. As próximas estrelas deverão ser o ‘1-click’ o ‘QR code’ e o uso do ‘blockchain’.
4 Junho 2021, 11h30

Numa inédita época de distanciamento social e de cuidados sanitários, tudo o que se pode fazer por via remota ou sem contacto é uma mais-valia e ganha adesão.

O mundo do dinheiro e dos meios de pagamento não foi exceção, com tecnologias como o contactless, o MB Way e as transações de e-commerce a brilharem, em detrimento do uso do cash físico e das caixas Multibanco.

“O setor dos pagamentos, pela sua natureza dinâmica e competitiva, está numa fase de profunda e acelerada transformação e se já nos últimos cinco anos os pagamentos eletrónicos e o comércio digital tinham assistido a um crescimento exponencial, este movimento ganhou uma preponderância ainda maior no último ano”, disse Teresa Mesquita, Chief Marketing Officer (CMO) da SIBS.

De acordo com os dados mais recentes do SIBS Analytics, o comércio online está cerca de 51% acima dos níveis registados no “antigo normal”, quando representava 10% do total das compras, sendo que este valor chegou a representar 18% em fevereiro de 2021, situando-se atualmente nos 15%.

“O MB Way continua a assumir-se como um dos métodos de pagamento mais convenientes e seguros, tanto nas compras físicas como nas compras online e atualmente é quatro vezes mais usado do que antes da pandemia”, explicou Mesquita.

Para Fernando Carvalho, administrador da Unicre, que emite cartões com a marca Unibanco e que através da REDUNIQ oferece soluções de pagamento de marcas como a Visa ou Mastercard, o destaque vai para os pagamentos contactless.

Enquanto que no arranque do ano de 2019, a quota de utilização do contactless no total dos pagamentos digitais era de apenas 4%, esse valor crescer, ainda que timidamente, para os 13% em março de 2020 – no início da pandemia, explicou.

“Contudo, a partir daí a sua utilização disparou para 42% em março deste ano, e acreditamos que continue a crescer – até porque os portugueses já reconhecem a simplicidade, rapidez e segurança que este método traz ao ato de pagamento”, adiantou o administrador da Unicre. “É nossa convicção que, até ao final do ano, o contactless alcance mais de 50% do total de pagamentos digitais em Portugal”.

A adopção de novas tecnologias passa quase sempre inicialmente pelas gerações mais novas, mas a pandemia veio acelerar o espalhar do uso através da sociedade.

“Sentimos um incremento muito significativo na percentagem de clientes que utiliza meios de pagamento mobile”, disse Ricardo Madeira, diretor de inovação e digital do Crédito Agrícola, que em 2019 lançou a moey! uma aplicação de serviços como pagamentos mobile a clientes com Apple Pay, wallet de Android e MB Way.

“Este aumento, esperado nas gerações mais novas, acabou por ser transversal à base de clientes de um modo geral”, vincou. “

A nossa previsão é de que esta tendência se mantenha e que exista mesmo um efeito de “contágio” entre clientes, assegurando que nos próximos anos estes pagamentos passem a ser o meio de pagamento dominante”.

O futuro: 1-Click, QR Code e blockchain
Se o contactless e o MB Way foram as principais estrelas dos meios de pagamento durante a pandemia, não faltam tecnologias que podem vir a brilhar no futuro.

“Um exemplo é a simplificação dos pagamentos em contexto de compras recorrentes ou de lojas de confiança dos utilizadores. É possível manter os mesmos níveis elevados de segurança no pagamento ao mesmo tempo que se torna a jornada mais fácil para o comprador, através de compras 1-click ou até automatização da compra”, disse Teresa Mesquita, da SIBS.

Outra tendência clara é a utilização de QR Codes nos pagamentos. A SIBS foi pioneira em Portugal e na Europa na adoção do QR Code de forma generalizada em terminais de pagamento e viu essa estratégia recompensada quando os consumidores preferiram formas de pagamento touchless em lojas, adiantou.

“Acreditamos que os QR Codes se irão generalizar, numa convergência entre o comércio online e o comércio offline”, vincou, dando como exemplo a possibilidade de ler um QR Code num anúncio na rua para encomendar o produto anunciado.

“Se cruzarmos isto com realidade aumentada as possibilidades são imensas”, sublinhou Mesquita.
Fernando Carvalho, da Unicre, referiu que além da generalização dos pagamentos através da tecnologia contactless e do comércio eletrónico, vamos assistir a uma maturação dos processos de machine learning,
“Vão permitir identificar padrões e mudanças de comportamento do consumidor no ato transacional e, consequentemente, adaptar as soluções às reais necessidades dos nossos clientes”, disse.

“Por fim, mas não menos importante, o setor financeiro vai continuar a apostar na garantia de segurança dos pagamentos à medida que a evolução tecnológica se vai desenrolando, e neste processo a tokenização de transações (através do blockchain) terá fundamental importância, uma vez que vai possibilitar tratar e proteger dados sensíveis, reduzindo o risco de fraude cibernética e gerando maior confiança junto dos consumidores”, vincou Carvalho.

“Caminho não se faz sozinho”
Questionados sobre como as autoridades governamentais ou regulatórias podem ajudar o desenvolvimento dos meios de pagamento em Portugal, os três gestores realçaram que tem de ser um esforço conjunto do ecossistema.
“Portugal ainda está atrasado no processo de adoção de meios de pagamento digitais, comparativamente aos congéneres europeus”, alertou Ricardo Madeira, do Crédito Agrícola.

VIncou, no entanto, que este é um desafio não só para o Governo e reguladores, como para todo o setor e cadeia de valor.

“Precisamos de identificar os desafios e as barreiras e apontar caminhos para soluções eficazes”. disse.

“Do lado institucional, é necessário continuar a promover a acessibilidade generalizada a soluções de pagamentos digitais inovadoras e seguras; promover a informação e literacia no que a estes temas diz respeito e contribuir para um enquadramento regulatório que continue a promover a inovação nos pagamentos”.

Promoção também é a palavra-chave usada por Fernando Carvalho, da Unicre.

“O grande desafio passará por uma maior promoção da transformação digital junto do tecido empresarial português, por forma a que este consiga acompanhar as rápidas mudanças que a evolução tecnológica e a pandemia estão a trazer à nossa sociedade, e que ao nível dos pagamentos têm sido bastante evidentes, na medida em que cada vez mais pessoas querem utilizar o seu dinheiro de forma digital, simples, rápida, mas mantendo a segurança de sempre”.

Salientou que, contudo, “este caminho não se faz sozinho, sendo necessária uma maior concertação entre Governo, reguladores e setor privado na definição das medidas que melhor concretizem o processo de transformação digital da nossa economia”.

Teresa Mesquita lembrou A SIBS opera num mercado dinâmico e competitivo onde os avanços tecnológicos se conjugam com um quadro regulatório europeu que promove um mercado Europeu aberto de pagamentos, eliminando barreiras nacionais.

“Vemos com agrado um suporte cada vez maior da aceitação e utilização dos pagamentos eletrónicos em prol da digitalização, e acreditamos que este suporte poderá ainda ser reforçado”, adiantou.

Salientou que Portugal tem ainda um caminho a percorrer em matéria de pagamentos eletrónicos, ainda que sejamos um país aberto à inovação, com soluções de pagamento pioneiras a nível internacional, e com uma população de early adopters, como demonstram os mais de três milhões de utilizadores do MB Way.

“É crucial que sejam criadas as condições necessárias para que Portugal se coloque na liderança da adoção de pagamentos eletrónicos”, alertou a gestora.

“Enquanto empresa líder em soluções de pagamento e financeiras assentes em tecnologia (fintech), continuaremos a disponibilizar o nosso know-how e a nossa tecnologia para oferecer cada vez mais soluções de pagamento digitais eficazes e convenientes, garantindo a sua adaptação de forma ágil aos novos hábitos de consumo e às novas necessidades dos atores económicos e da população em geral, sempre em segurança”, concluiu a CMO da SIBS .

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