Ainda acreditamos num futuro melhor? Os ciclos brutais de 24 horas de notícias de última hora espremem os poucos pingos de motivação e esperança por um mundo melhor. Por exemplo, acabo de ler que, nos últimos 45 anos, a Humanidade levou ao desaparecimento de 60% das populações animais, aproximando-nos cada vez mais da extinção.

E, no entanto, são as preocupações de ordem social e económica que mais marcam a agenda e levam a crer que nos tornámos protagonistas de uma distopia marcada por forte polarização e extremismos. A América – Norte e Sul – perdeu o pé no mar de profanidades declamadas diariamente por um presidente que tem incitado às piores manifestações de violência, racismo, anti-semitismo, homofobia, sem qualquer dignidade moral ou ética.

Enquanto o Reino Unido se perdeu num labirinto kafkiano, cujas várias saídas conduzem a abismos de isolamento e ruína, a guerra continua a irromper em focos localizados no Golfo Pérsico e Médio Oriente, e a Arábia Saudita desmembra, da forma mais hedionda possível, jornalistas em consulados, levando demasiado à letra o slogan de extrema-direita “a imprensa é inimiga do povo”.

A sensação de cerco e impotência aperta, especialmente num tempo em que a guerra cibernética de informação tomou conta das redes sociais e conceitos como verdade e mentira se tornaram reféns de guerrilheiros ideológicos de desinformação. Não tem faltado uma sistemática normalização de candidatos e afirmações que, até há dez anos, seriam considerados impensáveis e inaceitáveis numa sociedade democrática. O termo “liberdade de expressão” tem sido usado e abusado como porta de entrada para todo o tipo de insultos e discursos de ódio.

O ano 2019 promete ser um ano de tensões em que se continuarão a extremar posições. Vamos precisar de criar e propor novas alternativas que deem a volta a um sistema incapaz de corresponder às nossas aspirações. Por isso, pergunto de novo: ainda acreditamos num futuro melhor? Mas esta pergunta pressupõe outra: conseguiremos construir um futuro melhor?

Se acreditarmos realmente que sim, então é fundamental trabalharmos de forma permanente no otimismo. Por mais injustificado e inusitado que possa parecer ser-se otimista nos tempos que correm, o que é necessário fazer para que seja esse o nosso foco? O que é necessário fazer para encorajarmos a responsabilidade individual e o papel de cada um para resistirmos de forma positiva?

E agora que abordei a necessidade de nos armarmos de otimismo perante os tempos difíceis que se avizinham, com a ascensão de nacionalismos que irão minar ainda mais a sustentabilidade do nosso planeta, é bom lembrar que as nossas ações, por mais insignificantes e pequenas que possam parecer, podem não se materializar de forma imediata, pois esta é uma luta muito maior do que o nosso tempo de vida.

Afinal sufragistas, abolicionistas, objetores de consciência posicionaram-se à frente do seu tempo e lutaram contra a incompreensão, mas muitos deles não viveram para ver o fim da escravatura, o direito ao voto ou a condenação de guerras injustificadas. Não sei quanto a vocês, mas a mim reconforta-me saber isso.