Os relatórios anuais do Painel Europeu da Inovação medem o desempenho de países e regiões europeias desde 2001. Os scores são muito valorizados por governos e empresas, com grande impacto na imprensa, na imagem dos países e na atracção de talentos e investimentos. O apoio à criação de uma nova ferramenta electrónica, que desagrega estes resultados e flexibiliza a sua comparação, confirma a centralidade e a popularidade da agenda da inovação.

A aceleração do progresso europeu já reduziu o atraso face à Austrália, Canadá, Estados Unidos e Japão, mas espera-se que a China, partindo de uma posição inferior, alcance a Europa dentro de décadas. Por cá, as principais melhorias desde 2010 ocorreram na ciência, no ensino superior, no investimento privado em I&D e no capital de risco, reflectindo o esforço das políticas públicas, o empenho dos Estados-Membros e a sua espiral competitiva.

Portugal ocupa a 14.ª posição neste painel, abaixo da média europeia, liderando os Inovadores Moderados, um grupo de países do sul e do leste. A recuperação de 2015-2017 é insuficiente para compensar a divergência com a UE gerada na forte queda do score em 2010-2014, na sequência da crise.

Há várias áreas de excelência referidas no painel: o sistema científico está acima da média europeia; as infra-estruturas digitais exibem alta qualidade; a elevada adopção de tecnologia digital pelas empresas assinala um ambiente inovador; houve um incremento de registos de patentes e de marcas novas; e as PME nacionais revelam uma elevada dinâmica de inovação de produto, de processo, de marketing e de organização.

Mas estes avanços são contrariados pela falta de diplomados do ensino superior; a insuficiente cobertura da aprendizagem ao longo da vida; a redução do investimento público em I&D, agravado pelo fraco investimento privado em ciência; a falta de acesso a capital de risco. O recente recuo na colaboração entre empresas inovadoras é bastante grave, prolongando uma tradição das empresas nacionais que inibe a sua capacidade de crescimento e inovação.

O actual Governo português colocou a inovação, a digitalização e a modernização da indústria no centro da recuperação económica. O discurso do Portugal moderno, optimista e inovador, abriu o palco a novos empreendedores e ofereceu-lhes medidas (significativas e simbólicas) de apoio à reformulação da economia nacional.

Apesar dos progressos obtidos e da multiplicação de iniciativas nesta área, não é provável que alcance o grupo seguinte (Inovadores Fortes) sem uma alteração significativa das regras de medição ou apostas cirúrgicas em áreas do ranking, ainda que incoerentes numa estratégia global para a inovação.

Primeiro, as condições estruturais do país dificultam uma alteração súbita de resultados (fragmentação do tecido empresarial; baixo investimento privado em Investigação, Desenvolvimento e Inovação (I&D&I); fraca intensidade tecnológica da produção e da exportação nacional; atrasos na formação do capital humano; frágil relação universidade-empresa e cooperação intra-empresarial; insuficientes competências dos empresários; etc.).

Depois, a escolha de indicadores não é neutra: obedece a modelos específicos de inovação e favorece perfis económicos concretos. Isso significa que muitos avanços significativos recentes na nossa capacidade de inovação não têm expressão nesta ferramenta.

Uma marcha forçada para uma economia mais inovadora requer políticas próprias e uma atenção às condições específicas de cada país. A ausência neste painel de indicadores sobre a incubação de empresas, a diversificação de modos de financiamento, a transferência de conhecimento, o peso das energias renováveis ou a simplificação administrativa ilustra o impacto da escolha de indicadores na interpretação da realidade.

O desalinhamento entre política e monitorização de resultados distorce os scores e condiciona a conformidade das políticas nacionais a modelos desajustados às suas realidades. Esta questão é importante pelo peso destes instrumentos na definição de políticas europeias e na atribuição de recursos para as alimentar. Por exemplo, o investimento público em I&D deve articular-se com a existência de um sector privado nacional que absorva a investigação e os investigadores. Caso contrário, pode resultar no desperdício de recursos e na subsidiação indirecta de grandes empresas internacionais, ainda que seja valorizado no painel.

O próximo ano oferece uma oportunidade interessante para Portugal. A revisão do Painel Europeu da Inovação ocorrerá em 2019 e deve ser aproveitada para promover um modelo de indicadores mais isento face aos diversos perfis económicos e modelos de inovação. Mas, para isso, é essencial mobilizar a atenção de actores institucionais, empresariais e académicos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.