Milhares de anos de existência, incríveis avanços científicos e tecnológicos, melhoria da qualidade de vida percecionada, globalização galopante e, no essencial, pouco ou nada mudou. O que verdadeiramente move o ser humano ou, pelo menos, a grande maioria das pessoas, continua a ser o que de mais básico e animal existe: sexo, dinheiro e poder.

Poder-se-á argumentar que esta perspetiva é excessivamente dura e linear na crueza pessimista que retrata, mas, num ápice, tal fundamentação cai por terra com a chuva de casos de violência, assédio moral e sexual, corrupção e fraude para todos os gostos e feitios, com que diariamente somos brindados não só pela comunicação social mas também por análises mais profundas oriundas da comunidade académica.

E nem se diga que se trata de uma questão puramente cultural ou civilizacional, pois toda esta “onda negra” da atuação humana atravessa épocas, continentes, raças, crenças e religiões.

Para inverter a tendência, ou pelo menos estancar o seu ímpeto de crescimento, intervenções divinas à parte, haverá necessariamente que parar e refletir sobre aquilo que pode ser diferente para que as economias cresçam de um modo mais sustentado e justo diminuindo ou amenizando as cada vez maiores desigualdades sociais, as democracias o sejam efetivamente e que, mais importante que tudo o resto, sejamos tendencialmente mais felizes (não obstante o grau de subjetividade do conceito de felicidade).

Deixemo-nos então de adições em gadgets, redes sociais, cirurgias estéticas e por aí fora, num exercício desenfreado de detenção e manipulação de realidades factuais ou virtuais em tudo efémeras e quase sempre fúteis, que impedem o foco na essência e no que verdadeiramente preenche o físico e o intelecto.

Ou seja, afastemos os disfarces e os “carneirismos” e assumamos aquilo que somos, respeitando a individualidade de cada um e relacionando-nos saudavelmente sem “escudos” tecnológicos, mas sabendo tirar verdadeiro partido da evolução científica.

Concretizando e objetivando o discurso, aqui ficam algumas sugestões para caminhos a trilhar o quanto antes:

  1. Apostar prioritariamente na educação diferenciada dos mais jovens (começando logo no primeiro ciclo), distinguindo os métodos e programas de ensino consoante as características e as apetências individuais de cada um, ao invés do ensino “cego” e massificado;
  2. Difundir e procurar incutir fortes valores éticos e morais e elevado sentido de responsabilidade, quer no ensino, quer no mercado de trabalho;
  3. Focar grande parte dos recursos da investigação científica na mente humana e na psicologia;
  4. Incentivar a participação cívica ativa, acessível à generalidade dos cidadãos, a par da reforma do sistema político e eleitoral;
  5. Flexibilizar as leis laborais no sentido de conferir maior liberdade nos regimes de horário a cumprir pelos trabalhadores, e possibilitar e apoiar cada vez mais o trabalho à distância;
  6. Inserir políticas de felicidade nos programas de governo e na atividade empresarial, envolvendo os cidadãos na definição, implementação e monitorização das mesmas.