Estes dias Li um post no LinkedIn de uma mulher estrangeira — ligada às startups — que vive em Portugal faz já alguns anos. Conheço-a. E até já tive oportunidade de a convidar para alguns eventos “exclusivos” dos quais participei. Não por ser estrangeira, claro está, mas por ter um perfil interessante que pode eventualmente acrescentar. No seu artigo, lamenta-se de que os estrangeiros que se fixam em Portugal, alguns dos quais criando empresas, fazem-no muitas vezes exclusivamente vendendo para fora de Portugal.
Isto sucede porque “a visão de que o mundo vai além de Portugal, muitas vezes não existe”. Falta, segundo a mesma, “uma estratégia real em termos de parcerias de negócios, integração na economia ou iniciativas que alavanquem as ideias e expertise dos estrangeiros radicados”. Ao quadro fiscal mais favorável de que já beneficiam, pretendem também juntar estratégias à medida, parcerias e atenção às suas ideias e talento.
Em nada me oponho. Bem sei como é difícil entrar nas redes exclusivas em Portugal, ter que criar mercado para os produtos e serviços, ou alavancar os nossos conhecimentos e ideias. Portugal é um país exclusivo. Cheio de corporativismos, grupinhos, grupelhas e grupetas. A mentalidade é ainda contrária à abertura, colaboração e risco. O que me espanta é como no seu post ela sugere que isto é algo que afecta particularmente os estrangeiros em Portugal.
Claro que não. Que o digam os milhares de talentosos portugueses que estão fora de Portugal com significativa experiência e mentalidade empreendedora, e que gostavam de ser ouvidos; o seu conhecimento e experiência colocados ao serviço do seu país; que gostariam de regressar ou investir e que esbarram exactamente no mesmo tipo de corporativismo, protecionismo e provincianismo mal arejados.
O Conselho da Diáspora tem por objetivo precisamente aproximar os portugueses fora do país — mas é preciso aprender com as iniciativas passadas nesta área que acabaram por não resultar. E não resultam porque é preciso mexer no país. As pessoas não querem regressar para o mesmo país donde saíram. Querem um país moderno, aberto, que de uma vez por todas perca o medo e avance. O que tem de mudar é a ambição, a mentalidade, a forma como nos relacionamos e respeitamos reciprocamente. Isto só acontece com lideranças esclarecidas nas diversas áreas que possam dar o mote.
Grandes ideias e excelentes negócios surgem das pessoas. Sejam elas estrangeiras, Portuguesas de gema ou com sotaque de emigrante.