Conseguem imaginar padarias a serem nacionalizadas, estarem numa longa  fila e de senha de racionamento na mão esperando que um funcionário vos venda meia dúzia de cacetes? Nem George Orwell nos seus piores pesadelos se lembraria de tal, nem sequer Vasco Gonçalves e os seus acólitos comunistas nos seus tempos áureos chegaram a tal desvario. Mas sim, está a acontecer no país onde os irmãos Castro decidiram há pouco mais de uma década promover mais um dos seus experimentos marxistas, a chamada revolução bolivariana. Mas como é que o país mais rico da América Latina nos anos 50 do século passado, sentado na maior reserva de petróleo do mundo – mais de 300 anos de produção com reservas comprovadas –, chega a este ponto?

Depois do colapso da URSS por total falência económica, a Cuba dos Castro, desprovida dos recursos que o bloco comunista lhe provia para financiar a sua eternamente deficitária economia, teve de gerar no continente novos  parceiros que lhe permitissem sobreviver e assim evitar o mesmo trágico fim da URSS. E assim nasceram os regimes populistas bolivarianos no continente latino-americano e, muito particularmente, a rica Venezuela. Cuba fornecia serviços, apoio militar e proteção à corrupta nomenclatura venezuelana, recebendo em troca o tão almejado petróleo e outros bens. Enquanto o preço do barril de petróleo superava os 100 dólares, tudo corria aparentemente às mil maravilhas, e até o eng. Sócrates e o banqueiro Ricardo Salgado promoviam com entusiasmo grandes negócios com os cleptocratas populistas da Venezuela, naquilo a que pomposamente se chamava de diplomacia económica. Ou já se esqueceram de como Hugo Chávez se tornou no grande amigo de Portugal? Porém, em menos de um ano, o preço do barril desceu abaixo dos 50 dólares, para nunca mais voltar a subir.

Desde o ano de 2013, o regime marxista bolivariano venezuelano conseguiu a proeza mundial de reduzir o PIB nacional em 22%. Sim, leram bem, a Venezuela destruiu em menos de quatro anos uma quarta parte da sua riqueza, a produção diária de 3 milhões de barris de petróleo reduziu-se a 1,9 milhões, por falta de recursos para investir nos campos petrolíferos que foram nacionalizados,  a inflação numa base anual era em fevereiro  de aproximadamente 741%, o défice fiscal 20%, a grande maioria da indústria e da agricultura foram nacionalizadas, o país importa 98% dos alimentos que consome, os hospitais estão desprovidos de meios para prestarem os mais elementares serviços de saúde, as escolas e serviços públicos funcionam dois dias por semana devido ao racionamento da eletricidade, as farmácias não têm medicamentos, as prateleiras dos supermercados estão quase vazias.

A Venezuela, que, na segunda metade do século XX soube acolher milhões de imigrantes, atraídos pelo seu ímpar crescimento e riqueza, entre os quais cerca de 500 mil portugueses, transformou-se num pais de emigrantes e, pior ainda, refugiados que fogem à miséria, à insegurança e, há que dizê-lo com todas as letras, ao regime ditatorial que vigora de facto na Venezuela. Essas pobres famílias vindas de uma Camacha qualquer na ilha da Madeira e que em terras venezuelanas se integraram e laboriosamente construíram moinhos industriais e padarias, são hoje considerados perigosos capitalistas que acumulam riqueza (soa-lhes a algo parecido vindo da nossa geringonça?) à conta do povo venezuelano e por isso justifica-se que sejam expropriados dos seus bens… Pouco importa que agora os moinhos não funcionem e já quase não haja pão. Vêm-me à memória as palavras do economista francês do séc. XIX, Fréderic Bastiat: “O Estado é a grande ficção da qual todos procuram viver à custa dos outros”.