O período eleitoral é profícuo no abuso da terminologia e a ausência de suficiente literacia dos eleitores sustenta narrativas onde a mesma palavra tem vários significados.

A ideia de escrever sobre o tema partiu de uma opinião escrita com inteligência e humor por parte do economista Ricardo Paes Mamede e cujo tema era o significado de carga fiscal e de outros termos. Independentemente de algumas ideias feitas, o autor, com ironia e elegância, dá exemplos que chegam de responsáveis do PS, do PSD ou do CDS e nem precisa de falar dos exemplos do Bloco (especialistas na apropriação de palavras e conceitos), nem do PCP ou dos partidos mais pequenos. E a conclusão é simples: falar em aumento de carga fiscal pode ser benéfico, ou melhor, não é líquido que seja mau. No denominador está o PIB e no numerador estão mais impostos e mais contribuições para a Segurança Social. Ora mais impostos pode não significar o seu aumento, mas antes o alargamento da base e mais contribuições para a Segurança Social pode significar mais emprego ou melhor emprego. Precisamos de combater a desonestidade intelectual a que alguns políticos e opinion makers nos habituaram. E se Costa e Centeno já nos habituaram nas lides da desinformação, Rio prefere alinhar pela omissão, ou seja, conclui que não lhe convém explicar os conceitos. Rio tem contra ele toda a máquina do PS nas redes sociais (algo a fazer lembrar os tempos de Sócrates) e é comum vermos e ouvirmos em programas de informação de relevo na TSF, na RDP ou na TVI alguém falar contra o Governo e de seguida apareceram três telefonemas onde alguém desanca contra quem contrariou o poder instalado. Nos tempos anteriores à Troika este modelo era claro, hoje está bem mais dissimulado.

Costa tem perdido pedalada nos últimos dias e Rio tem ganho os debates. Possivelmente chegou tarde e Costa teve uma equipa que o mandou fazer “de morto” porque a concorrência iria espalhar-se a sério. E se no episódio dos professores o centro direita caiu redondo, já nos debates televisivos vimos um Rio revigorado. Afincou com todos os dentes no primeiro debate com o tema da emigração ao anunciar o número assustador de cerca de 330 mil pessoas que terão emigrado durante o consulado Costa, um número que aparenta ser conservador e que fechará 2019 num nível bem mais elevado. Costa foi apanhado de surpresa e defendeu-se como o número do ano passado pois ocorreu um saldo líquido positivo na emigração. Mas o dano já estava feito pois aquilo que interessa é a tendência. Nestes debates é curioso verificar que há um outro vencedor, o líder do PCP, Jerónimo de Sousa. Até os eleitores de direita o admiram com a pose de senador. Ele não ganha um voto com esta estratégia e receberá os votos da clientela habitual que vai evoluindo ao saber das mortes, pois filhos e netos de apoiantes do PC tenderão a votar Bloco. Mas, repita-se, foi um dos triunfadores das noites de debate.

Entretanto, as sondagens dão uma aproximação de Rio a Costa. Rio que sempre desdenhou as sondagens, aproveitou para cavalgar sobre os números que os aproximavam. Política oblige.