A crescente instalação de parques fotovoltaicos em Portugal tem vindo a levantar preocupações sérias quanto à afetação de solos, à perda de biodiversidade e à degradação de serviços de ecossistema essenciais. Muitos destes projetos foram autorizados em áreas florestais ou seminaturais, com uma avaliação estratégica reduzida e escasso envolvimento das comunidades locais.

A meta de 8,4 GW de capacidade solar até 2025, prevista no PNEC 2030, implica ocupar cerca de 16.800 hectares,  o equivalente a quase duas cidades de Lisboa. Estima-se que, por cada 2.000 hectares convertidos, se perdem anualmente entre 1,4 e 2,6 milhões de euros em serviços de ecossistema. Estas perdas são cumulativas ao longo do tempo, especialmente num contexto de alterações climáticas. Por outro lado, o benefício climático da energia solar é claro, com cada GW a evitar cerca de 3,2 milhões de toneladas de CO₂ por ano, o que, a preços médios de carbono (80 €/ton), equivale a 256 milhões de euros/ano.

Contudo, quando estas infraestruturas são implementadas em zonas ecologicamente sensíveis, o retorno líquido pode ser bastante inferior ao inicialmente estimado, já que esta balança positiva ignora impactos irreversíveis como a fragmentação de habitats ou a perda de biodiversidade, e negligencia alternativas mais inteligentes como o aproveitamento de áreas já degradadas, a implementação de modelos agrovoltaicos ou a promoção de centrais “habitat-friendly” com vegetação nativa. Além disso, há impactos pouco discutidos, como o aumento da absorção de calor (efeito albedo) e a redução da evapotranspiração, que podem agravar a seca em ecossistemas vulneráveis.

O futuro da energia solar em Portugal dependerá, acima de tudo, de onde e como se instalam os projetos. Priorizar solos degradados e áreas industriais, promover a produção descentralizada, integrar a avaliação ambiental estratégica nos planos nacionais e envolver ativamente as comunidades locais são passos fundamentais para garantir uma transição energética verdadeiramente justa e sustentável.

Mais do que cumprir metas, importa assegurar que não sacrificamos os ecossistemas que sustentam a nossa economia e bem-estar em nome de uma estratégia mal orientada. A oportunidade para transformar o sistema energético é real, mas o risco de repetir erros antigos com uma nova roupagem “verde” também o é.