Nos mercados internacionais, o calçado produzido em Portugal já não perde valor quando existe a referência “made in Portugal”, como acontecia antes. Pelo contrário, há agora um adicional de valor fruto do investimento realizado ao longo dos anos na imagem e na afirmação dos fatores diferenciadores do calçado português: saber fazer, qualidade, flexibilidade e responsabilidade apresentados em mercados internacionais de forma coerente e organizada.

Num estudo, iniciado pela Universidade Católica Portuguesa em 2015, com continuação, agora, em 2019, foi possível confirmar, através de entrevistas a players do setor a nível internacional, assim como através de uma prova cega que decorreu na Micam, em Itália, a vários modelos de calçado nacional (misturados com calçado de outras nacionalidades, nomeadamente italiano) que, de facto, o calçado português é, cada vez mais, reconhecido a nível mundial.

Em 2015, o valor atribuído ao calçado nacional era mais elevado quando não se sabia a sua origem (origem da produção ocultada) do que quando esta era conhecida (o “made in” é informado). Neste último caso, o valor caía 18 por cento, sendo penalizado em relação a algum calçado de referência, como o italiano.

A conclusão mais importante do estudo agora realizado é que, em 2019, quer para o calçado feminino quer para o masculino, há uma maior valorização atribuída à origem portuguesa. Assim, se em 2015, o conhecimento da origem portuguesa retirava valor, hoje, a origem portuguesa, claramente, adiciona-o em 27,6 por cento, em média, para calçado de ambos os sexos. A inscrição “made in Portugal” parece, portanto, valorizar o calçado nacional.

Outra vertente deste trabalho permitiu conhecer os fatores para a aposta contínua na melhoria da competitividade do setor. Nesta vertente, os resultados apontam para a continuidade na aposta na inovação, estilo e design e reputação, com oportunidades a despontar ao nível do e-commerce, sustentabilidade, comunicação e branding.

Uma das oportunidades identificadas prende-se com o uso de plataformas de e-commerce, que se apresenta como um desafio para os produtores de calçado portugueses que procuram aumentar as vendas e alcançar novos mercados. Adicionalmente, a sustentabilidade da indústria surge também como oportunidade. Torna-se imperativo, por isso, alertar os produtores de calçado para esta questão e apoiar na procura de soluções ecológicas, tanto a nível de materiais, como de processos.

A importância da comunicação e do marketing para a promoção do setor do calçado continua a apresentar-se como fundamental. É essencial que o produtor seja visto pelos clientes empresariais como um consultor, e para que seja possível uma relação de parceria, os produtores devem investir mais na comunicação B2B. A APICCAPS pode apoiar os produtores neste desafio, ao reforçar as competências de comunicação junto do cliente empresarial (B2B).

Ainda que todas as empresas tenham um contributo a dar na afirmação da reputação do calçado nacional, no que diz respeito à criação de marcas, é importante salvaguardar que se trata de um desafio mais ao alcance de umas do que de outras.

Já o selo “made in Portugal” parece, de facto, beneficiar a todas. Mas também aqui esse benefício é desigual: há empresas com marcas fortes que agem como contribuintes líquidas para o selo do “made in Portugal”; outras, porém, são beneficiados líquidos deste carimbo, ao dele receberam mais do que o que dão. Em todo o caso, se bem gerida, a inscrição do “made in” pode, inclusivamente, contagiar outros setores de atividade no nosso país.