A Marsh registou o maior aumento de sempre do risco económico por país a nível mundial e concluiu que devido à pandemia as disparidades entre os países mais desenvolvidos e as economias emergentes estão a aumentar. No “Mapa de Risco Político 2021” lançado recentemente, a consultora de riscos considera que o risco económico de Portugal subiu para 3,9 e o risco legal e regulatório para 3,1. Ao Jornal Económico, Carlos Figueiredo, diretor de financial risks & specialties da Marsh Portugal, diz que a percepção da justiça portuguesa no exterior é “desfavorável”, ainda que compare bem face a outros países do Sul da Europa.
A Marsh registou o maior aumento de sempre do risco económico por país a nível global. Esta tendência irá manter-se só em 2021? Quando é que prevê uma alteração na tendência?
Considerando que, mesmo depois de controlada a pandemia, que nos afeta globalmente há mais de um ano, e contido o problema sanitário, daí recorrente, podemos antecipar que continuaremos a sofrer impactos sociais e económicos durante alguns meses ou mesmo anos. Dificilmente estes impactos, a uma escala global, serão ultrapassados nos próximos 12 meses. A assimetria geográfica da afetação associada à capacidade dos Estados poderem intervir na recuperação económica e a outros riscos que continuam ativos, em planos como as tensões geopolíticas, as migrações involuntárias ou a dependência das cadeias globais de abastecimento, poderão dar-nos pistas para anteciparmos que a tendência irá prolongar-se por um período superior a 12 meses, mas difícilmente estimável na sua extensão.
Quais os principais factores que poderão levar a uma subida/descida do risco económico a nível mundial?
Historicamente, após uma grande crise como a que estamos a atravessar, por norma são implementadas medidas económicas a nível transnacional dentro das alianças regionais existentes ou mesmo em novas alianças que emergem desses momentos de crise, as quais se tornam nos motores de recuperação económica. Neste momento, verificamos que em muitas regiões do mundo esta consciência já existe e os atores políticos e financeiros estão a tomar medidas e a juntar esforços para ultrapassar os problemas que mais pressionam a economia. Existe, no entanto, o risco de algumas regiões poderem não estar preparadas ou não terem os recursos para implementar as medidas necessárias e aqui podemos de facto ter um risco de dificuldades adicionais na recuperação.
O que explica o facto do indicador de risco de Portugal falhar as responsabilidades perante os credores tenha diminuído apenas 0,1 p.p. enquanto o risco económico do país subiu de 3,3 para 3,9?
A forma rigorosa como Portugal cumpriu os seus compromissos perante os seus credores, relativamente à sua dívida soberana, mantendo consistente este cumprimento, será uma razão que poderemos encontrar para uma certa estabilidade do primeiro indicador. No entanto, já quanto ao risco ecomómico, Portugal está exposto a um ambiente desfavorável de grande pressão, com a necessidade e tomada de medidas internas de gestão dos impactos negativos da pandemia, mas, também, num contexto europeu em que os nossos principais parceiros comerciais apresentam níveis idênticos de evolução do risco económico.
Quais as principais razões que levaram a uma subida do risco legal e regulatório de Portugal?
A forma como a justiça e o sistema de justiça Português é percecionado fora de Portugal é desfavorável. Ainda que exista uma evolução importante quanto a uma desburocratização de alguns expedientes a que as empresas têm que recorrer para o desenvolvimento da sua atividade, existem ainda processos, difíceis de compreender. Ainda assim, quando olhamos para este fator em outros países do sul da Europa, com quem naturalmente somos muitas vezes comparados, podemos ver que a posição de Portugal é mais favorável. Este é um fator muito relevante na atração de negócios para o nosso país, pelo que a par das medidas tomadas nos últimos anos para a simplificação administrativa, o investimento na área da justiça continua a ser uma prioridade para uma maior confiança.
A retirada das medidas de apoio e à economia em Portugal podem representar um risco económico para o país?
No âmbito das políticas europeias de suporte à recuperação desta situação criada pela COVID-19, os apoios aos Estados, incluindo a Portugal, são bastante relevantes e, nesse sentido, não nos parece que se antecipem problemas por falta de fundos. Agora, o grande desafio estará na aplicação correta e em tempo destes meios, fazendo chegar à economia real estas ajudas na fase de recuperação económica. O risco para a economia existe, mas a oportunidade de que desta crise possamos obter vantagens, é também grande.
Portugal é um dos países expostos à possibilidade das falências em massa de empresas zombies identificado no relatório?
Segundo alguns dados de entidades que monitorizam a evolução dos riscos de crédito das empresas (entre as quais os seguradores de crédito), Portugal é um país onde existe um conjunto alargado de empresas que estavam já bastante fragilizadas antes desta paragem imposta pela COVID-19. Estando uma parte importante dessas mesmas empresas sem atividade durante um largo período de tempo, em certos casos um ano, sobrevivendo através das medidas excecionais de apoio, as entidades de crédito prevêem que após o término da aplicação das medidas gerais de ajuda, estas empresas não sobrevivam.
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